São três drogas: tenofovir, efavirenz e lamivudine. Tomadas em dose única, antes de dormir. Entre
os efeitos colaterais estão náuseas, tontura e sonhos vívidos, outros distúrbios
do sono. Vão passar. Foi assim que comecei meu tratamento. Estou quase completando
um mês.
Depois de passado essas semanas, acho que nada poderia
ter me preparado o suficiente para passar por isso. Certamente não é a coisa
mais difícil que passei em minha vida, nem muito menos a mudança mais drástica.
Mas o fato de ser tolerável não torna tudo menos complicado. Acho que ainda
estou me acostumando, mas a sensação desse momento de adaptação é algo
melancólica.
O tratamento mexe diretamente como todos os aspectos
da sua vida. Você se torna um pesquisador de você mesmo. Fica a analisar seu
próprio cheiro, sua urina, suas fezes, seu hálito, sua saliva, a distribuição
de gordura no seu corpo, sua coordenação motora, seus sentidos e todas as
características que você reconhece como suas são fundamentais para a avaliação
do que muda em você.
Isso também se refere ao emocional e sua capacidade
intelectual. Seu humor, sua energia, sua capacidade lógica, seu pensamento
abstrato, sua alegria, sua ansiedade, seus pensamentos e toda sorte de
impressões sobre sua subjetividade também são constantemente colocadas em
contraste com o que você um dia foi.
Antes de iniciar o tratamento, eu obviamente já tinha
mudado fisicamente e psicologicamente. Então, os parâmetros de comparação
flutuam entre um momento no passado antes da conscientização sobre a infecção,
outro momento antes do início do tratamento e o presente. Essa forma de ver e sentir a si mesmo foi
algo marcante nesses quase 30 dias.
De modo geral, me tornei um pessoa com menos energia e
menos focada. Por outro lado, houve um salto muito expressivo no meu sistema
imunológico. Não preciso ter feito o exame para comprovar isso. As doenças
quase sumiram. Tenho esperança que meu
corpo encontrará um novo equilíbrio e que eu possa voltar a ter a mesma disposição
que tinha antes.
Confesso que tenho receio da medicação provocar outros
danos aos meu corpo. A fraqueza que sinto, as náuseas matinais e a urina
espumosa são alguns fatores que indicam alarme. Preciso aprender a mitigar o
risco de outros problemas de saúde. Ao mesmo tempo tento não me debruçar sobre
o assunto para evitar somatizações e pânico. Mas é certo que preciso me
preparar. Meu corpo não está preparado para tanta química.
Por enquanto, por minha conta, resolvi tomar mais
água, ter uma alimentação mais saudável, parar com álcool, tenho planejado voltar a fazer exercícios
físicos e resolvi escrever esse blogue. Cuidar da espiritualidade, ir em outros
médicos e pensar em fazer análise, também estão na lista.
Fica para outro post falar sobre a mudança em outros
aspectos que o tratamento traz: a relação com as outras pessoas e as
expectativas existenciais.
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