terça-feira, 4 de novembro de 2014

Vá se tratar!

São três drogas: tenofovir, efavirenz e lamivudine.  Tomadas em dose única, antes de dormir. Entre os efeitos colaterais estão náuseas, tontura e sonhos vívidos, outros distúrbios do sono. Vão passar. Foi assim que comecei meu tratamento. Estou quase completando um mês.

Depois de passado essas semanas, acho que nada poderia ter me preparado o suficiente para passar por isso. Certamente não é a coisa mais difícil que passei em minha vida, nem muito menos a mudança mais drástica. Mas o fato de ser tolerável não torna tudo menos complicado. Acho que ainda estou me acostumando, mas a sensação desse momento de adaptação é algo melancólica.

O tratamento mexe diretamente como todos os aspectos da sua vida. Você se torna um pesquisador de você mesmo. Fica a analisar seu próprio cheiro, sua urina, suas fezes, seu hálito, sua saliva, a distribuição de gordura no seu corpo, sua coordenação motora, seus sentidos e todas as características que você reconhece como suas são fundamentais para a avaliação do que muda em você.

Isso também se refere ao emocional e sua capacidade intelectual. Seu humor, sua energia, sua capacidade lógica, seu pensamento abstrato, sua alegria, sua ansiedade, seus pensamentos e toda sorte de impressões sobre sua subjetividade também são constantemente colocadas em contraste com o que você um dia foi.

Antes de iniciar o tratamento, eu obviamente já tinha mudado fisicamente e psicologicamente. Então, os parâmetros de comparação flutuam entre um momento no passado antes da conscientização sobre a infecção, outro momento antes do início do tratamento e o presente.  Essa forma de ver e sentir a si mesmo foi algo marcante nesses quase 30 dias.

De modo geral, me tornei um pessoa com menos energia e menos focada. Por outro lado, houve um salto muito expressivo no meu sistema imunológico. Não preciso ter feito o exame para comprovar isso. As doenças quase sumiram.  Tenho esperança que meu corpo encontrará um novo equilíbrio e que eu possa voltar a ter a mesma disposição que tinha antes.

Confesso que tenho receio da medicação provocar outros danos aos meu corpo. A fraqueza que sinto, as náuseas matinais e a urina espumosa são alguns fatores que indicam alarme. Preciso aprender a mitigar o risco de outros problemas de saúde. Ao mesmo tempo tento não me debruçar sobre o assunto para evitar somatizações e pânico. Mas é certo que preciso me preparar. Meu corpo não está preparado para tanta química.
Por enquanto, por minha conta, resolvi tomar mais água, ter uma alimentação mais saudável, parar com álcool,  tenho planejado voltar a fazer exercícios físicos e resolvi escrever esse blogue.  Cuidar da espiritualidade, ir em outros médicos e pensar em fazer análise, também estão na lista.


Fica para outro post falar sobre a mudança em outros aspectos que o tratamento traz: a relação com as outras pessoas e as expectativas existenciais.

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