segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Revisão no Fim do Fim do Carnaval

Carnaval passou. Eu tive um bom carnaval. Divertido e namoradeiro. Viajei para o Rio, fui em vários blocos, na Sapucaí, na The Week de lá. Também teve muita praia, paquera e tudo aquilo que se espera de um carnaval solteiro.
Como fui com amigos que tinha antes de ter contraído o HIV, eu quase esqueci totalmente do doença. Quase. Primeiro, o remédio diário não deixa esquecer. Nem mesmo certas limitações. Mas o que mais me acordou para o meu estado foi justamente o sexo. Não porque eu estava com medo de passar algo para alguém ou qualquer encanação dos primeiros meses que tive sexo, mas simplesmente por verificar que as pessoas simplesmente não estão usando camisinha, quando elas não brocham ou te dispensam por usar. Se eu tivesse que voltar no tempo, eu usaria camisinha até no pensamento com um estranho. Mas as pessoas estava sem limites. Ouvi de tudo:
_ Põe só a cabecinha e tira.
_ Quero que goze na minha boca.
_ Mete sem capa mesmo.
_ Eu brocho se tiver que usar camisinha.
Até o inusitado:
_ Tenho alergia ao latex.
Tudo era pretexto para querer tirar a camisinha e fazer sexo.
Sim, eu fui um pouco promíscuo neste carnaval, mas fiz sexo seguro. Como deveria ter feito. Camisinha e protegendo inclusive que não queria ser protegido.
Na minha conta foram 12 parceiros em 7 dias, sendo que cinco pediram para não usar camisinha direta ou indiretamente.
Fiquei com muita vontade de perguntar se eles não tinham medo de contrair HIV, e se já tivesse, se não tinha medo de pegar outras doenças. Fiquei curioso para saber se estavam tomando os remédios como profilaxia e por isso estavam aberto a fazer sexo desprotegido. Fiquei na dúvida. Era carnaval e eu só queria brincar.
Ao mesmo tempo, me peguei pensando se as políticas públicas de HIV estão indo para o buraco. Ou se as pessoas não estão nem aí. Notei que o número de pessoas falando da importância de usar camisinha em propagandas, na TV e outros meios não era expressivo com em outros carnavais. Talvez tenha sido meu estado de espírito que tenha desligado a minha atenção.
Então eu encontrei o 13° parceiro. Posso até dizer o nome, se chamava Luis (ou Luiz). Era lindo, tinha apenas 23 anos de idade, um corpo perfeito com músculos no lugar certo, um pelo ralinho no peito e acima da bunda. Eu estava totalmente encantado por um menino tão mais novo que eu. Estávamos bêbados. E pela temperatura do corpo e pelo jeito de olhar e falar, tenho certeza que estava um pouco alterado de alguma droga também. Começamos a nos beijar. Eu já pensando que tinha encontrado o homem mais lindo na cidade para terminar o carnaval comigo. Até que ele tirou a camisinha na hora que iria colocar. Sem que eu percebesse. Mas por sorte coloquei a mão lá e vi que ele estava sem. Brochei na hora. Perguntei para ele como ele poderia fazer aquilo. Ele disse que tudo bem que não tinha nada. Eu falei, você nem sabe se eu tenho ou não. Você não perguntou se eu permito ou não. Ele olhou para mim, sorriu, os olhos encheram de lágrimas e ele chorou. Pode ter sido o álcool, algo que tenha tomado, o estado emocional, algo mais,  ou tudo junto. Eu abracei. E conversamos. Saímos do hotel para tomar um sorvete, e no caminho ele me pediu desculpas. Falou que não tinha feito isso antes, que tinha sido o tesão do momento. É claro que não acreditei. Mas expliquei para ele, todos o problemas que ele pode ter com aquele ato. Ele sempre muito carinhoso e ao mesmo tempo másculo, ouviu sem atenção. Após o sorvete, eu resolvi encontrar os amigos que estavam na praia. No caminho, vi o mesmo rapaz conversando com outro cara que já estava com a mão por dentro da calça do rapaz, no meio de um bloco de rua que estava passando. Todas as pessoas em volta passando como se nada estivesse acontecendo. Homens e mulheres, gays, lésbicas, todos muito a vontade. Alguns fazendo coisas igualmente sexuais no mesmo bloco. Essa é a imagem que mais me marcou nesse carnaval. Mais pelo que eu senti do que pelo que já tinha visto em vários outros dias. Um festival da carne que talvez mude a vida de muita gente.