terça-feira, 29 de dezembro de 2015

2015 para 2016

Foi um bom ano para a luta contra AIDS? Só saberemos com o passar do tempo. O fato que é muitas coisas foram feitas no sentido de se encontrar uma cura e chegar num novo patamar de tratamento da doença.

Para mim, o mais impactante foi trocar as 3 pílulas por 1. Parece bobagem, afinal quem engole uma, engole 3, mas simbolicamente foi um marco. Quantos comprimidos tinham que tomar as pessoas no auge da doença? Quase duas dúzias durante um dia inteiro? Agora é uma dose única diária com possibilidade de outros avanços no próximo ano.

Claro, não vou deixar de agradecer pelos meus avanços pessoais. Voltar a ter um corpo menos magro. A diminuição dos efeitos colaterais. A adesão ao tratamento de forma efetiva. Foram conquistas, sim.

Fiquei doente, mas muito menos do que 2016. O medo se tornou menos central em vários aspectos. E me informei mais sobre muita coisa.

Ainda estou aprendendo a viver com o HIV. Tenho esperanças sobre o futuro. Por isso, retomo ao pedido do primeiro dia do ano, tenham fé, tenham força e continuem. Que venha um grande ano com surpresas felizes e transformações positivas.

FELIZ 2016!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Médico dependência

Uma das coisas mais assustadoras para algumas pessoas portadoras do HIV é perder a ilusão de independência em relação às demais pessoas. Para o soropositivo é mais evidente o quanto ele depende do outro para sobreviver. Ele precisa de uma sociedade disposta a fabricar o remédio, a oferecer dentro de suas possibilidades financeiras e de uma rede profissionais da saúde que vão cuidar que ele continua bem antes e após iniciar o tratamento.
As demais pessoas podem ter a ilusão que são livres e que não dependem de ninguém para viver, mas para elas a ilusão é apenas mais forte. Ela não nota que toda sua vida é produzida e assistida por outras pessoas. E um dia, todos ficam doentes ou envelhecem. Nós que possuímos o HIV no sangue temos o privilégio de estar um pouco mais despertos essa realidade, pois temos que recorrer mais frequentemente a uma ajuda externa que outra pessoas não tem que recorrer para sobreviver.
A principal dela é a pílula diária. A tecnologia nos trouxe para até o ponto de só precisar de uma pílula diária na maioria dos casos. Mas esquecê-la é temerário. Pois pode significar complicações indesejáveis, no mínimo.
Há os exames e consultas rotineiras. Depende um pouco do seu médico e do seu estado de saúde, mas você vai precisar monitorar seus estado de saúde de perto, de forma a se antecipar a qualquer problema.
Agora, há uma evidência dessa dependência que pode surgir em qualquer momento, de várias formas e por vários motivos. Você pode estar trabalhando, dormindo, se exercitando ou até mesmo fazendo nada. Algo pode surgir na sua cabeça ou no seu corpo que faça perguntar: _ O que é isso? _ É normal o que está acontecendo? _ Será que tudo foi dito sobre esse assunto? _ Isso é normal?
Ainda temos sorte de estar vivendo a era da informação, da internet, do Google. Eu geralmente corro para o computador e procuro a resposta. Mas não tenho muito sucesso em encontrar uma resposta a coisas que se relacionam com o HIV. Talvez perca a paciência facilmente. Talvez não exista essas informações disponibilizadas de forma sistemática na rede. Mas faz grande falta. E tenho certeza que faz para outras pessoas também. É só olhar os comentários dos blogs e sites sobre o tema. Verá a sede das pessoas por informação, seus medos e inseguranças por não encontrá-las e mais ainda sua frustração.
A maior parte das minhas perguntas não são respondidas. Algumas nem mesmo os médicos parecem ter. Já passei alguns sufocos que só se resolveram com o tempo, pois nem o médico poderia responder. Em algumas situações bastava ter meia dúzia de palavras em site para me tranquilizar. E quando o problema surgi em momento que não há o que fazer, ou corre-se para o pronto socorro, ou espera o fim de semana passar e vai tentar falar com seu médico. Se conseguir falar com ele.
Depender do outro para ter uma resposta pode ser uma das coisas mais paralizante na vida de alguém. Mas como eu disso, todos nós dependemos. Alguns simplesmente não veem isso.

sábado, 28 de novembro de 2015

Meu amigo e meu amante

A sensação é que fui traído, mas nem isso posso dizer. Tudo esteve muito claro para mim desde o começo, então qualquer esperança ou ilusão que eu tivesse foi culpa minha. Na semana passada, durante o feriado, fui com meus amigos para The Week novamente. Era uma festa temática de lenhadores ou ursos. Tinha um pessoal realmente fantasiado para ocasião. Com muito custo consegui convencer Carlão a ir comigo. Falava tanto dos meus amigos e de como eles eram legais, sem contar é claro que todos eram HIV positivo, como nós.
Carlão e eu tínhamos nos encontrado várias vezes no último mês, basicamente para fazer sexo e comer. Depois cada um ia para seu lado. Mas é claro que tinha expectativas que um dia ele quisesse algo sério. Se não fosse um namoro, uma relação que não tivesse sexo como base. Por isso, sempre convidei ele para programas que pudéssemos conversar, saber um do outro e quem sabe permitir que um envolvimento tivesse nascido naturalmente. Foram convites para cinema, teatro, casas noturnas, passeios, entre outros tantos. A resposta dele sempre foi negativa. Mas sou persistente, e acabei fazendo uma aposta com ele que se eu ganhasse ele deveria ir comigo em uma saída dessas.
Não posso falar aqui o que eu apostei, mas posso dizer que ganhei. E mesmo assim ele não queria pagar. Depois de muito insistir ele topou uma saída, que não passasse das duas horas da manhã.
Foi o bastante para que eu me enchesse de esperança e até mesmo de um orgulho tolo de ter uma companhia assim para sair com meus amigos. Cheguei até a mandar uma mensagem no whatsapp: "encontro vocês lá, vou acompanhado hoje".  O que me rendeu várias gozações e todo tipo de insinuação. Passei para buscá-lo por volta das 23:30 horas. Ele estava como sempre, uma camiseta e calça jeans, mas nem um pouco menos gostoso do que ele sempre é. Fomos conversando animadamente pela primeira vez até chegar na The Week. Mas quando deixei o carro no estacionamento, ele me segurou pelo braço e falou que tinha que falar duas coisas. Uma que não queria que ninguém dos meus amigos soubesse que ele é HIV positivo. O que prontamente concordei e fiz questão de deixá-lo tranquilo que nunca trairia a confiança dele. Mas então houve um segundo recado, esse sim um balde de água gelada. Ele me disse que estava lá apenas como um amigo dele, e que não tínhamos nada. E que ele falava isso para o meu próprio bem. Claro que fiquei com vontade de mandar ele se foder, mas segurei o impulso e falei que eu nunca tinha falado nada diferente, que ele já tinha deixado isso muito claro muitas vezes. Por mais que eu tentei me segurar, não consegui deixar de ficar um pouco mal humorado. Entramos no local e corri para o bar para beber algo. Depois de um e outro drink fiquei mais relaxado. Foi quando percebi o quanto Carlão estava surpreso com o local. Ele nunca havia ido na The Week. E parecia estar muito animado. Depois de um tempo fomos para a área VIP atrás da cabine do DJ, e ficamos lá bebendo mais um pouco e vendo o movimento. Carlão começou a ficar impaciente e querer sair daquela área, quando chegaram meus amigos. Fazendo aquela festa e muito curiosos sobre minha companhia. Continuei a beber e em certa altura resovi ir para o bar pegar outra cerveja, Ted me acompanhou, Carlão falou que iria no banheiro, e os outros ficaram por ali. Demorei para pegar a cerveja e quando voltei Carlão não tinha voltado. Fiquei um pouco apreensivo e fui atrás dele no banheiro. Quando cheguei lá recebo uma mensagem no celular falando que ele tinha voltado para onde o grupo estava. Aproveitei e usei o banheiro. Quando voltei, ele disse que estava na hora de ir embora. Nos despedimos de todos e fomos. Ou seja, uma noite boa. Não houve continuação, ele falou que precisava acordar cedo do dia seguinte e nos despedimos na portaria da casa dele. Desde então trocamos algumas mensagens e só. Ele respondendo de maneira curta, dizendo que estava muito ocupado. Ontem Apolo me ligou pedindo para conversar com ele. Apolo me ligava raramente, mas desde que terminou com o namorado eu fiquei mais próximo dele. Saíamos mais e rolava uma paquerinha de fim de noite, sempre não correspondida. Fui encontrar com ele em um bar perto de casa. E logo percebi que ele tinha um expressão séria demais. Fiquei preocupado, e imaginando várias coisas. Depois de rodear um pouco ele falou que naquele dia que saímos juntos, o Carlão adicionou ele no Facebook, e logo depois começaram a se encontrar... Fazia alguns dias que eles se encontravam. Novamente engoli meu orgulho e falei que não era problema. Afinal Carlão não era meu namorado ou coisa assim. Apolo abriu aquele sorriso largo dele e me abraçou, falando que era um alívio que eu não tinha ficado chateado. Acho que sou um bom ator, pois fiquei muito chateado e com raiva. Mas o que poderia fazer? Obrigar Carlão a não ter nada com Apolo? Só me restou recolher meus caquinhos vir para casa e arranjar um jeito de afogar a dor de cotovelo. Mas olhando tudo o que passamos juntos, Carlão e eu, realmente, só que estava se enganando era eu. Lição dada, lição aprendida.

sábado, 21 de novembro de 2015

HIV Positivo na Mídia

Estamos chegando naquela época do ano que todos falarão sobre HIV , AIDS e outras DSTs. A véspera do Dia Internacional do Combate a AIDS faz as TVs mostrarem filmes sobre portadores de HIV, vira pauta de todos telejornais e ainda tema de entrevistas e programas de auditório. Muita coisa útil será dita, muita coisa inútil, mas principalmente muito espetáculo. Ainda mais com a recente "saída do armário" do Charlie Sheen.
Tenho evitado assistir filmes sobre HIV positivo e temas relacionados. Não assisti nem Clube de Compra Dallas com Matthew McConaughey, nem o Boa Sorte com a Deborah Secco. Em algumas vezes eu não consigo evitar por ser surpreendido por um personagem que é revelado como HIV positivo (spoiler!!! Aviso: falo de algumas surpresas de alguns filmes, se não quiser saber pule para o próximo parágrafo). Talvez não tão surpreendente como em "Por Detrás do Candelabro" com Michael Douglas e Matt Damon, no qual o pianista Liberace (Douglas) tem um fim melancólico e triste pela doença, ou de forma reveladora no filme que prometia ser apenas sobre uma velhinha ao mesmo tempo atrevida e simpática "Philomena" com Judy Dench.
Não que os filmes não sejam bons ou não mostrem o tema de "boa forma", mas acho que procuro os filmes como forma de sair um pouco da realidade. Também acabo um pouco constrangido em ver a percepção do outro algo que é tão íntimo meu. O mesmo não acontece quando leio matérias e blogues. Alguns documentários também foram bem interessantes. No ano passado, passou uma matéria na Globo News, e por mais duro que fosse, senti uma profunda simpatia pela que estava sendo mostrado.
Além disso o tema do contágio, doenças e sobrevivência parecem mais interessantes quando levados aos extremos. Sou grande fã de séries americanas, e tenho vido que é recorrente o tema sobre vírus e luta contra o contágio, além é claro da mudança da forma dos seres humanos existirem. Talvez seja mais legal enxergar na vampirice viral da Lady Gaga no America Horros Story - Hotel, como um HIV às avessas, ou nos Zumbis do The Walking Dead contaminados por um HIV do fim do mundo. Nesses casos, a fantasia e o medo são transformados em algo mais livre da realidade sem deixar de se relacionar com a mesma.
É um espetáculo diferente do que o será proposto daqui em diante pela grande mídia que tentará vender espaços publicitários a partir da exposição da "conscientização da população" do problema da AIDS e do HIV. É um espetáculo diferente da visão de um diretor ou roteirista sob o filtro da pena, do politicamente correto ou do condescendência. Sei do perigo de afirmar algo sem ter assistido. Um dia assisto, mas enquanto o destino não fizer eu estar na hora certa e no momento certo de assistir um filme desses, ficou eu com minha novelinha diária de exames, comprimidos e análises no espelho.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Carlão ou Quem é você na fila do SUS?

No post anterior, ao falar da revelação do Charlie Sheen, eu comentei sobre a recusa em aceitar um serviço de busca do remédio na farmácia do governo, as famosas Unidades Dispensadoras. Para o portador do HIV, ir buscar o medicamento é um dos momentos mais delicados, pois por mais que a pessoa não queira se revelar, nesse momento ela fica vulnerável e exposta.
Já passei por diversas situações, desde idas rápidas à filas longas e constrangedoras. Desde momento que liguei o foda-se a momentos que fiquei apreensivo ou estressado. Hoje em dia, eu tento ligar o piloto automático e ir sem me importar o que pode acontecer. E coisas acontecem.
Cerca de um mês atrás, quando fui buscar meu remédio na hora do almoço. Ao chegar no local, havia uma longa fila predominantemente de homens. Esse foi um dos dias que estava receoso ao ponto de reparar que inconscientemente havia ido disfarçado para lá. Roupas escuras, boné e óculos escuros. O que fazia justamente as pessoas olharem ainda mais para mim.

A verdade é que se você não foi um Charlie Sheen ou outra celebridade, ninguém estará interessado em você. Estarão todos compenetrados em buscar seu remédio e cair fora dali o quanto antes. Pelo menos a grande maioria. Mas para toda regra há exceções. Você pode sim encontrar um conhecido, mas calma lá, ele estará lá pelo mesmo motivo que o seu. Ou se estiver procurando, pode encontrar algo mais...
Na fila havia uma seleção de tipos diferente do que já havia encontrado. Primeiro, notei dois homens que conversavam num volume que parecia propositadamente para todos do ambiente ouvirem. Eles falavam das desventuras da vida e como ter pego HIV tinha sido culpa deles e somente deles, e que não era vergonha para ninguém. Pareciam querer convencer a todos de alguma coisa que não estava clara ainda. Na frente dele, havia uma senhora que poderia ser uma dona de casa ou empregada doméstica, tímida e encolhida sobre o próprio corpo, porém atenta à conversa. Um pouco mais à frente um menino jovem, deveria ter entre menos de 20 anos, com cara de assustado. Como se fosse a primeira vez por ali. Na frente dele, um homem mais velho, musculoso, com uma camiseta polo justa no corpo, bonito, com olhar perdido no começo da fila. Na minha frente um outro rapaz com fone de ouvidos que emitiam um zumbido de música eletrônica, também bonito.
Os homens continuavam a conversa agora de religião. Diziam o quanto é importante ter fé e acreditar em algo maior e por aí iam... Foi quando o musculoso voltou o olhar para eles e encontrou o meu olhando para ele. Ficamos por um momento nos vendo e ele sorriu um sorriso largo, automaticamente respondido por um sorriso meu. Então, ficamos encontrando nossos olhares vez ou outra. Lembre de quando encontrei o Ted pela primeira vez naquela mesma farmácia, naquele mesmo horário. Pensei que deveria ir mais nesse horário na farmácia. E talvez tenha sido um dos motivos que me levaram a também não passar uma procuração para alguém buscar o remédio por mim. O rapaz buscou o remédio e saiu, acompanhei com o rosto, e fiquei me perguntando de não deveria ter ido falar com ele.
A fila andou. E os homens ainda falavam de religião. Dessa vez de forma mais enfática. Fiquei imaginando que em algum momento iriam distribuir um convite para uma igreja ou algo assim. A fila foi aumentando atrás de mim. Quando chegou na minha vez, tive a coragem e olhei para as pessoas atrás de mim. Uma fila já não tão de desconhecidos olhando para baixo, tentado evitar o contato visual. Peguei meus remédios e parti. Quando estava chegando perto da estação do metrô senti alguém ao meu lado logo atrás e virei para olhar. Para minha surpresa, era o homem musculoso da fila. Ele sorriu e soltou um "oi" amigável. Correspondi e entramos na estação. Vou chamá-lo de Carlão. Carlão tem 40 anos, e sabe que é HIV positivo desde 2009. Falou que pegou de uma ex-namorada que era soropositiva e não sabia. Na época, achava que só poderia pegar HIV de outros homens e foi descuidado. Resolvemos parar em algum local para conversar. Almoçamos juntos e foi tudo muito bom. Tenho que confessar que fiquei animado. E até mesmo interessado em algo mais.
Nos encontramos no fim de semana, fomos em um restaurante, e esticamos na casa dele perto da Avenida Paulista. Ele queria fazer sexo sem camisinha. Chegou a mostrar os exames dele como contagem indetectável e não reagente para outras DSTs. Falei que não queria. Ele insistiu de maneira leve, ao ponto de não me incomodar com aquilo. Mas mantive a minha postura. Acabamos fazendo sexo com camisinha mesmo. E foi muito bom. Acabei dormindo na casa dele. No dia seguinte, fui acordado logo cedo, ele me avisava que tinha que sair. Enquanto me arrumava, ele deixou claro da maneira mais gentil possível que só queria sexo mesmo, que não tinha condições de ter um relacionamento sério na vida dele. Apesar de um pouco frustado, entendi a posição dele. Desde então nos encontramos uma vez ou outra. Ele me manda uma mensagem no whatsapp ou facebook, eu me faço de difícil, depois cedo e acabo indo encontrar com ele. Seria uma amizade colorida, como falavam, se houvesse alguma amizade. É só sexo, sexo excelente, mas casual... Vou permitindo enquanto ainda me fizer bem.

Charlie Sheen e o anonimato do portador de HIV

Charlie Sheen revelou que é portador do HIV, há quatro anos sabe da contaminação. Porém tudo leva a crer que ele só revelou seu segredo por estar sendo chantageado e estar a ponto de não conseguir mais esconder a sua condição. Ainda assim é necessário um pouco de coragem para fazer o que não se tem outra saída. Parece que ele fez sexo sem camisinha com suas parceiras e não contou, o que é crime nos EUA. Ao revelar sua soroposivitividade ele se livrou apenas de parte do problema, mas talvez seja parte suficiente para tirar certa dores de cabeça.
Ele entra agora para o hall dos artistas contaminados e assumidos que estão vivos. Entre eles Magic Johnson que convive com a doença a pelo menos 24 anos.
Todo esses rumores em torno da revelação de Charlie Sheen não evitou que Magic o convidasse a participar da sua luta contra AIDS e conscientização sobre o HIV. Não me lembro de uma grande celebridade como ele ter revelado nos últimos anos que está com HIV. E só por isso, o ato dele já significativo. Ainda mais por ser heterossexual convicto e evidente. Ajudando a mostrar mais uma vez o quanto a doença é mal da humanidade como todo e não apenas de um segmento. No Brasil, não há uma dessas pessoas famosas que publicamente se manifeste portador do HIV. As pessoas encontram um jeitinho para se manter no anonimato ou camuflar falando que é outra. Fiquei sabendo disso por uma proposta que recebi.
Cerca de um mês atrás um dos meus amigos portadores de HIV me perguntou se eu não gostaria de usar o serviço de psicólogo dele para buscar os remédios no centro de distribuição do governo. A ideia é permitir o anonimato. Passar pelas filas das farmácias pode ser também uma experiência no mínimo constrangedora e estressante. Por isso, resolvi marcar a consulta com o tal profissional para ver do que se tratava. Cheguei em consultório muito elegante no Itaim. Havia uma sala de espera, mas fui atendido diretamente pelo homem por volta dos seus 40 e poucos anos. Bonito e extremamente simpático. Ele me levou até uma sala na qual sentei e conversamos sobre o serviço. Eu passaria uma espécie de procuração para ele, pagaria uma consulta particular no valor US$ 300,00 para entrar no esquema e mais uma taxa mensal de US$ 30,00, um valor que ele deixou claro que faria para mim por ser amigo do fulano. Sim, os valores eram negociados em dólares. Eu hesitei e falei que iria pensar. Então, no que pareceu um intuito de me convencer, ele me revelou que dois dos clientes deles eram artistas da Rede Globo. Claro que não mencionou nomes, mas falou que um deles tinha passado por um problema de saúde por conta do contágio e recentemente simulou uma outra doença para justificar as internações e idas aos hospitais, além da mudança de aparência. E que o outro era uma pessoa que ninguém nunca desconfiaria por ter uma aparência atlética, saudável e por ser muito bonito. Ele poderia muito bem estar inventando toda a história para ganhar mais um "cliente", ou contava uma vantagem. Não dá para saber. O fato é que a história faz sentido e que ele efetivamente presta esse serviço para dois amigos meus. Fazendo a conta, se ele tiver 10 desses clientes, é cerca de R$ 1.200,00 apenas em uma ida em uma farmácia... Eu poderia gastar esse dinheiro, esse não era o problema. Mas achei melhor não por vários motivos. Então falei que iria pensar para deixar a opção em aberto e me despedi. Não pude deixar de notar que a saída era feita por outra porta que dava em uma outra sala menor.
Se esse serviço foi oferecido para uma pessoa comum como eu, imagine as possibilidades para artistas e personalidades famosas. Imagine quantas pessoas não passam o que Charlie Sheen está passando. Nos últimos meses, tenho conhecido muitas pessoas com HIV. São amigos de amigos, conhecidos e estranhos. Uma verdadeira multidão silenciosa que se esconde atrás do anonimato para pode seguir vivendo relativamente normal. Ao ponto de ser comum estar na The Week, em plena área VIP e me ver cercado por soropositivos por todos os lados em um silêncio cúmplice. Alguns não sabendo que a pessoa com quem estão são também portadores do HIV e não havendo nada que pudesse ser feito para alertá-los sem revelar o segredo de tantos outros. Então eu penso, será que vale a pena? Será que não é melhor deixar rolar a notícia?


domingo, 1 de novembro de 2015

Um ano de tratamento

Ter ficado um dia sem o remédio me lembrou que estou a mais de um ano me tratando. Sim, completei os 12 meses com sucesso, sem falhas. O segundo ano terá uma falha. Mas segundo meu médico não será o fim do mundo. Fazer o que? Me preparar para não ter mais falhas nos próximos anos.

Conviver com os efeitos colaterais é sem dúvida a coisa mais aborrecida do tratamento. Se não fosse eles, acho que talvez dava para parcialmente esquecer que se está contaminado. Então, na verdade os efeitos colaterais ajudam a me manter ancorado na realidade. Sou um portador de HIV. Tenho no corpo um dos maiores medos da humanidade, um vírus ainda incurável.

Ao mesmo tempo, conviver tanto tempo com a infecção e tratamento fez que naturalmente eles adquirissem novas proporções. Sei que há convivências e convivências com doenças. Por exemplo, quem tem que fazer hemodiálises, pode achar irreconciliável com a rotina.

Acho que o padrão de tratamento mais parecido seja com um diabético. Alias, certos sintomas são próximos. E há quem consegue conviver muito bem com a doença e tratamento, e aqueles que não seguram a barra.

Não tenho dúvidas do quanto foi importante iniciar o tratamento. Não tenho dúvidas do quanto vale a pena após um ano ainda sentir efeitos colaterais. Mas claro que espero por melhorias em todos os aspectos da minha vida.

Tenho muita sorte ainda. Quando comecei a tomar o remédio eram apenas 3 pílulas em dose única. Lembro de ter lido pessoas que tomam 10 em horários diferentes. Melhor ainda foi que em menos de um ano de tratamento as 3 foram substituídas por apenas uma. Maravilha da ciência.

Há estudos de uma possível dose mensal ou outras formas alternativas de aplicação do tratamento sendo desenvolvidas. Ter me contaminado e iniciado o tratamento nesses anos é melhor do que ter iniciado a cinco anos atrás.

Prepara-se para o que vier. Teremos muitos desafios pela frente, mas quem sabe apenas uma surpresa mude tudo em breve. Esperança e fé.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Um dia sem o tratamento. Um dia sem o tratamento?

Que merda! Acordei hoje me sentindo especialmente bem. Sem o enjôo matinal, sem aquela confusão mental e extracansaço rotineiros. Também estou com mais saliva na boca. E o apetite sexual está um pouco mais, vamos dizer, apetitoso... Acho que esqueci de tomar o antirretroviral! Será?

Não tenho certeza. Ontem, ao dormir fiquei na dúvida se tinha tomado ou não. E na dúvida, não tomei o que seria uma segunda dose. Não foi uma escolha fácil. Sofri fazendo as contas das pílulas e dias. Tentando lembrar se aquela ida até o banheiro tinha significado que tinha aberto o armário, o frasco e pegado o remédio. Será que na dúvida deveria tomar uma  possível segunda dose? Ou será melhor pular uma vez e tomar muito mais cuidado nas próximas.

O que acontece quando se esquece uma dose? Não é claro. Nada em se tratando desse vírus é muito claro. Por exemplo, algumas pessoas ficam anos sem iniciar o tratamento com o nível de CD4 e contagem viral excelente. Outras tem poucos meses entre o contágio e os primeiros sintomas da AIDS. Claro que alguns fatores influenciam: alimentação, esportes, uso de drogas ilícitas, consumo de álcool, cigarro, promiscuidade, horas de sono e outros fatores da qualidade de vida. Porém mesmo assim, duas pessoas com hábitos semelhantes podem apresentar o desenvolvimento da doença de forma drasticamente diferente.

Esse não é um post de elogio ao interrompimento ao tratamento. Principalmente, por um erro desses poder ter graves consequências senão ter desdobramentos fatais. Mas não tenho como negar que de duas, uma: ou eu esqueci de tomar o medicamento e os efeitos colaterais matinais são residuais de uma noite sem a química pesada, ou a sugestão teve um efeito placebo às avessas, atenuando na minha percepção alguns elementos que tornam minhas manhãs difíceis.

Porém há um lado bom. A constatação que o dano químico poderia desaparecer caso o tratamento não fosse mais necessário. Como seriam melhores minhas manhãs! Dá mais força para que descubram logo uma cura, e assim eu posso me beneficiar da interrupção segura do tratamento. Por outro lado, também reforça a ideia que muito do que acostumei ser minhas manhãs pode ser um estado induzido apenas pelo tratamento. Independente de ser imaginário ou não. As manhãs podem voltar a ser manhãs livres do enjôo, torpor e confusão.

Agora, não penso duas vezes em voltar ao tratamento. Tenho ainda a clara imagem daquela pessoas debilitada pelos primeiros sintomas da AIDS. Iniciar e manter o tratamento salvou minha vida. Ainda me livrou da insegurança de ter um vírus que permite o desenvolvimento de várias doenças oportunistas. Aftas, ínguas doloridas, feridas, febres, dores, herpes, gripes, resfriados, sinusites e muitos outros deram lugar a duas a três horas de incômodos matinais que passam e permitem uma vida relativamente comum. Estou contando as horas para próxima dose. Estou contando os dias para a cura. Estou contando com a sorte para que esse possível lapso não tenha consequências.

sábado, 24 de outubro de 2015

A Nova Aparência do Portador de HIV

Todos nos lembramos do estigma do portador de HIV do final dos anos 80 e início dos anos 90. Era o homem extremamente magro, com perda considerável de cabelo, pele de cor acizentada e esverdeada, olhos profundos e aboticados. Quanto não tinha manhas escuras pelo corpo, machucados e consequente envelhecimento precoce. Essa imagem anunciava o horror da doença e o estágio terminal da AIDS. O doente era identificado facilmente na rua, entre os círculos de conhecidos e nos hospitais. O preconceito era grande e algumas celebridades valentes colocaram seu rosto a mostra pela causa e por uma solidariedade sem tamanho que poucos entendem. Como se expor desse jeito poderia ter algo de bom? Vemos hoje em dia que mostrar aquela realidade foi fundamental para provocar uma reação da nossa sociedade.


Após, tivemos uma suavização dessa imagem. Não tão magra, não tão debilitada, menos chocante, mais ainda facilmente identificável. O olhos ainda se pronunciavam. A cor da pele era entre o cinza esverdeado e opaco. A aparência cansada e certa perda de cabelos. Em pessoas mais velhas, a infecção já não era tão clara como nos mais novos. A qualidade de vida era fundamental para aumento da sobrevida do paciente, mas os casos de falecimento ainda eram constantes. 

Então, vieram a nova geração dos antirretrovirais. Remédios potentes e fundamentais para diminuir drasticamente a mortalidade dos infectados. A aparência do portador de HIV no imaginário das pessoas melhorou bastante. E na realidade, havia pouca coisa que denunciava o paciente em tratamento. Especialmente o fundamento das bochechas, braços e pernas finas em comparação com o corpo com ventre abaloado. 

Como novos portadores de HIV surgindo a todo momento, e como a redução dos efeitos colaterais dos coquetéis. A nova aparência do HIV positivo ainda ficou associada a certa magreza, senão um certo inchaço. Leve distrofia. Um certo afundamento da parte inferior da maçã do rosto e uma coloração de pele menos viva. Os novos portadores de HIV já não eram tão facilmente apontados pela aparência, pois poderiam ter outros males ou até mesmo terem um biotipo semelhante. O que mais denunciava o portador era a passagem da fase assintomática para a fase sintomática, e para quem estivesse mais próximo. 

A nova imagem do portador de HIV não existe. Não que não seja possível identificar algo daquela primeira imagem no soropositivo atual. Em especial, uma certa saliência dos olhos, um afinamento do queixo e bochecha. Menos gordura localizada nas coxas e nádegas. Tanto as intervenções plásticas quanto o simples entendimento da mudança da fisiologia do portador criou-se condições para que o mesmo se misture na multidão sem ser reconhecido. Não é incomum encontrar pessoas que ficam melhores após o contágio. Tanto por passar a cuidar melhor de sua aparência e saúde, como por uma maior disciplina para se alimentar e exercitar. A nova geração de infectados se libertou do antigo estigma da aparência, mesmo que ainda tenha que enfrentar o preconceito, muitas vezes de quem menos esperaria.




De Volta ao Peso Normal

Alguns dias atrás eu celebrei um marca. Voltei ao meu peso normal. Ainda falta colocar alguns músculos no lugar, mas já estou me sentido como esse rapaz da foto.



O primeiro desafio foi me alimentar direito. Eu simplesmente não estava comendo o suficiente. Ainda tenho a impressão que meu intestino não absorve os nutrientes como antes. Além da alimentação rica em proteína e fibras, ela tem que ser saudável para evitar o aumento do colesterol e outras predisposições que o portador do HIV em tratamento tem. Diminuir o álcool é um desafio, mas um dos hábitos que provocam mais impacto a médio e longo prazo. Ainda não bebo tanta água quando deveria o que fica claro na qualidade da minha pele e em outras necessidades fisiológicas. Preciso aumentar.

Mas o fato é que a melhor global é perceptível. Não sou exatamente como era antes. Antes eu tinha uma aparência mais jovem e descansada. E tenho que confessar que a distribuição de gordura no corpo parecia mais natural. Não sei se é lipodistrofia ou simplesmente os anos passando, mas é algo perceptível. No rosto, na região da barriga. De qualquer maneira, a musculação ajuda bastante.

Não tenho pretensões de ser um Jack Mackenroth (http://www.jackmackenroth.com/), mas quero pelo menos não me sentir mal na frente do espelho. Tenho sorte de não ter predisposição para ser obeso ou magro demais. O que facilita. Ou seja, quero o mínimo, me manter atraente para mim, e para um certo número de pessoas que faça me sentir desejado. Sei que parece tolo e até mesmo superficial. Mas digamos que é uma preocupação a menos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

The Cure

Enquanto a cura não vem, The Cure... Friday I'm in Love! 


Especialistas em HIV

Conheço um especialista em HIV. Não é meu infectologista, não é um amigo próximo. É alguém que conheço pessoalmente e não sabe ou finge não saber da minha sorologia. Falo isso, pois além de já ter apresentado os clássicos sinais de ser HIV positivo, emagrecimento e certa mudança da aparência, também já fiz sexo e tenho um contato esporádico.



Se eu for julgar que todos meus amigos comuns com ele são HIV positivo, eu teria que escrever vários posts sobre o assuntos. Prefiro acreditar que por ele ser gay e ter a libido como poucas pessoas que conheci faz dele uma pessoa popular. Além disso, o mundo gay é pequeno. Acredite, as coincidências são constantes mesmo com aqueles que "não frequentam o meio".



Voltando ao especialista. Ele possui um conhecimento avançado sobre o tratamento do HIV, da AIDS, efeitos colaterais e tudo que se relaciona com o soropositividade e prevenção. Porém ele é apenas uma pessoa normal, que vai ao banheiro e sente-se carente, que trabalha muito e tenta levar a vida da melhor maneira possível. Ele não é um sábio que guarda as chaves para todo o conhecimento sobre como o HIV afeta a vida das pessoas. Ele é um especialista técnico. Que pesquisa e trabalha com a doença diariamente. Que ganha o pão de cada dia com seu conhecimento sobre o assunto. Que salva a vida de muitos. Que tem intimidade com o conhecimento científico e com toda a terminologia que parece uma língua estrangeira para o leigo. Porém uma pessoa normal. Sujeita a erros e acertos, como qualquer ser humano.



Até já suspeitei que ele pudesse ser HIV positivo, antes mesmo do meu contágio. Pois todos estamos sujeitos a contaminação mesmo os mais esclarecidos sobre o assunto. Já me perguntei se não deveria conversar com ele sobre o assunto. Seria interessante e esclarecedor. Mas o grande número de conhecidos que compartilhamos e uma certa timidez me segura.



Também não sei ao certo o quanto ele encararia numa boa o fato de me aproximar dele pelo conhecimento científico e profissional. Até escrever isso já soa ruim. Certo? Então, por que estou escrevendo esse post? Na verdade, eu estava lendo alguns blogs e sites sobre HIV quando li uma frase de uma blogueiro (Alexandre) falando que o fato dele ser HIV positivo não faz dele um especialista no assunto. Isso me bateu, não porque me achasse um especialista, mas por considerar que a minha experiência sobre o assunto é sim de um especialista. Especialista em lidar diariamente com o HIV. Eu sei, pode rir. Mas não abro mão do título. Não quero que ninguém siga meus conselhos ou encontre respostas para suas dúvidas, mas desejo de maneira firme que quem leia meu blog, em especial, aqueles que convivem de alguma forma com o HIV saibam que não estão sozinho e que estamos resistindo juntos.



Quanto ao meu amigo especialista? Torço para que um dia ele torne o conhecimento dele ainda mais acessível. (Não que tenha alguma obrigação) Quem sabe ele não faz um blog, um site, uma página no Facebook ou até mesmo vídeos no youtube?

Manual de como viver com um HIV positivo - parte III - Libido

Um dos grandes mistérios para mim é a libido, não apenas para o HIV positivo, mas para qualquer pessoas. Aliás, não só para mim, para a ciência, psicólogos e toda a sorte de profissionais e religiosos. Ninguém sabe ao certo como a libido funciona. Não existe drogas legais que alteram a libido de forma positiva. Pelo contrário, a maior parte das drogas diminui a libido. Mas o que é a libido? É a vontade instintiva que temos em fazer sexo. É aquilo que deixa os homens e as mulheres naturalmente excitados e prontos para o sexo. Existe um comportamento coletivo no que diz respeito a libido. Certas idades, certas horas do dia, certas situações e certos hábitos favorecem a libido. Por exemplo, os homens adolescentes tem muito mais libido do que os homens adultos. As mulheres jovens e as que alcançaram a menopausa tem mais libido do que as outras. As pessoas que praticam mais exercícios e tem alimentação mais saudável também possuem mais. Assim como quem tem mais auto-estima ou se sente atraente também. Porém, há sempre exceções à regra. Algumas drogas em certas doses aumentam a libido, é o caso da cocaína, GHB, ecstasy e outras. Porém levam a dependência química e psicológica. Algumas com o GHB ainda levam ao comportamento de alto risco de exposição a doenças sexualmente transmissíveis e ao risco de morte. Mas o fato é que em uma pesquisa rápida você vai notar que o portador do HIV positivo tem uma alteração na libido. Antes do tratamento e depois. Antes, muito ligada ao estado psicológico, e após, ligadas a diversos fatores químicos e psicológicos. Quem convive com um HIV positivo precisa ter um pouco de paciência e criatividade. A libido não desaparece na grande maioria dos casos, ela fica um pouco mais difícil de se manifestar. Mas se manifesta.



No meu caso, pessoalmente, ela se deslocou da parte da manhã para tarde. E ficou um pouco menos ativa. Porém não comprometeu a frequência que tenho sexo. Usar drogas para dar uma mãozinha para libido está fora de cogitações. Além de reduzir a imunidade, os efeitos da ressaca química são ampliados pelos antirretrovirais. Porém devo confessar que quando bebo, o sexo vem mais fácil. Mas já era assim antes do tratamento. Se você está convivendo com alguém com HIV positivo e está tendo dificuldades para lidar com a oscilação da libido da pessoa, eu indicaria tentar explorar as fantasias sexuais de ambos. Pode ser um estímulo a mais para chegar em um estado de excitação mais rápido. Homens são mais fáceis. A maioria vai se deixar levar pela provocação de imagens e sons que possam aguçar a imaginação. Vai depender um pouco do quanto a pessoa está aberta para explorar as próprias fantasias sexuais. Acredite, nem que estejam guardadas no fundo dos pensamentos, elas existem. Experimente vídeos eróticos ou pornos que podem ser acessados na internet sobre temas de diversos fetiches e situações, não tenha medo de ousar e se divertir. E aos poucos segure as rédeas da brincadeira. Outra coisa é alimentar essas fantasias em festas e casas noturnas, ou outros ambientes no qual exista a segurança e permissão necessária para isso. Nesse caso, vá com calma para ninguém se machucar. Converse sobre o assunto e crie regras para evitar com mútuo acordo para evitar conflitos desnecessários. Há sempre a opção da ajuda profissional, você poder procurar sozinho ou acompanhado do parceiro sexual. Procure fugir das fórmulas mágicas e dos atalhos. Além de geralmente não dar certo, só escondem um problema que está em evidência e pode ser trabalhado ou tratado.

Bom dia?

           Acordar ainda é complicado. Eu sei que eu nunca fui daquelas pessoas que levantam cantando e vão alegres para o banho ou preparar o café da manhã. Nem mesmo tinha bom humor, geralmente meio aborrecido. Mas depois do tratamento, as manhãs são mais difíceis sim. Não é para todos, tem quem faça o tratamento e acorde bem. No meu caso, há a alternância de 2 ou 3 efeitos colaterais mesmo após um ano de tratamento. Enjoo, sono e cansaço. Como se tivesse bebido no dia anterior e tivesse tido uma noite ruim. Talvez eu precise ver um médico do sono ou coisa semelhantes, mas o meu desânimo seria a possibilidade de ter que tomar outro remédio. Geralmente, após acordar, os sintomas cedem após alguns minutos nos quais tenho que simplesmente enfrentá-los.

           A melhor maneira e me manter acordado, resistir a vontade de voltar a dormir mais um pouquinho. Lendo e-mails, consultando a internet. Ainda na cama. O segundo passo é me libertar da inércia e conseguir sair de certa letargia ao conseguir comer algo. E isso é importante, mesmo com o enjoo. Parece que comer algo alivia esse sintoma. Mesmo que a última vontade seja de comer algo. Se conseguir fazer tudo com certa disciplina, em 30 minutos estou pronto para começar o dia propriamente. Então, é contornar um certo torpor ou confusão mental que se instala por mais um tempo e pode durar até mesmo uma ou duas horas. Por isso, tento não ter atividades profissionais como reuniões ou contatos humanos mais profundos de manhã. Não tentei atividade física também, mas sempre que tenho caminhar ou fazer algum esforço não me sinto 100%. Dirigir não é confortável, apesar de ser mais tolerável agora. Além de tudo, boca seca, pele seca e cara mais amassado do que costumava ser. Acordar comigo não deve ser a coisa mais que dá mais prazer, mas tento disfarçar. Ainda é um desafio, mas vale a pena. Ter as demais 14 horas do dia relativamente úteis, é uma boa recompensa. Parece pouco, mas lembre que é saudável ter 8 horas de sono. Então teríamos 16 horas como as demais pessoas. Eu e as pessoas que tem esses sintomas matinais, pelo menos, podemos utilizar essa duas horas de recuperação para ter uma consciência da importância de aproveitar cada segundo da sua vida, de valorizar seu corpo, saúde e bem-estar nos demais momentos. Sei que é um pouco Poliana demais, mas veja bem. O mundo já tem limões bastantes para simplesmente acrescentarmos os nossos. Que venham limonadas bem docinhas. Bom dia!

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Dividindo talheres, Copos e Paranoias

Ontem notei que faz muito tempo que não escrevo. Na verdade, nem visitar outros blogues sobre assuntos e fazer pesquisas eu andei fazendo... Acho que me deixei levar pelo estado de alegria de ter novos amigos com quem conversar diretamente sobre os diversos assuntos que trato aqui. Ao mesmo tempo, meu estado de saúde melhorou conscientemente nos últimos meses e mesmo o tratamento parece ser algo tolerável com seus efeitos colaterais que vão do perceptível ao moderadamente incômodo. 
Também seria um bom final deixar no blogue a história da descoberta até a adaptação da minha condição de HIV positivo. Mas essa semana acordei mal. Com alguns gânglios inchados na garganta. Uma dorzinha que vem volta na pálpebra também estava presente. Além disso, perdi 2 kg em alguns dias. Tudo isso foi perceptível para mim, meus amigos e familiares. E me fez ver que estou longe de estar resolvido com qualquer questão relativa a ser HIV positivo. 
Somando-se a isso existe um certo estado de saturação com os novos amigos. Eles se tornaram como um gueto do qual não sei se quero ser parte. Para completar, meus antigo amigos e familiares olham essas novas amizades com certa desconfiança. De onde vieram essas pessoas? 
As nossas regras para podemos falar do assunto provaram-se muito úteis. Principalmente durante nossas saídas noturnas, que são momentos que ficamos bem expostos. Cada um de nós tem uma vez pré-HIV que tem um certo conflito com essa amizade por "afinidade".  Ciúmes e curiosidade dos outros são constantes. 
Eu mesmo tive que ser bem criativo para contornar uma situação na qual sai com eles e encontrei outros amigos muito próximos que obviamente quiseram ficar por perto tentando entende o que nos unia. Nesse dia, eu realmente compartilhei com o grupo do 5 da paranóia que muitos sabiam de nós sem que fosse falado abertamente. Mas preferi acredita que caso isso chegue aos ouvidos dos meus outros amigos que ele venham conversar diretamente comigo. Mesmo sabendo que talvez eu não fizesse isso. 
Nesses dias que o medo da doença voltou com tudo. Também algo estranho aconteceu. Comecei a perceber que meus novos amigos tinham um segredo qualquer não me contavam. Não sei se porque ainda sou considerado um calouro ou por não ter ganhado a confiança deles. Ou talvez, o que seria pior, fosse algo ruim que eles não deveriam contar para ninguém. Tentei sondar aqui e ali, mas tudo o que pude confirmar é que há algo que não foi me dito. 
A primeira coisa que veio à minha cabeça foi algo bobo, mas depois pareceu ser algo mais sério. E então o fato de nos chamar de clube dos 5 e o clima paranóico que estava se instalando me fez pensar em algo terrível relacionado ao aqui já comentado "Clube do Carimbo". Chegar a pensar nisso me fez correr às bulas dos remédios que tomo para verificar se paranoia era um efeito colateral. Não encontrei, mas vi vários outros me incomodam... Que ficam para outro post. 
Depois de uma boa noite bem dormida, acho que exagerei na suspeita, mas de qualquer modo fiquei um pouco de saco cheio de toda essa situação. E todo o peso de ser portador do HIV se apresentou de uma forma que a muito tempo não aparecia. Vou chamar essa sensação de Síndrome do Maculado. Uma mistura de uma melancolia e aversão pelo estado que me encontro que se soma a um sentimento de solidão. Sei que vai passar. Sei que não é o fim do mundo. É seguir em frente. 




sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Clube dos 5 HIV positivo

Como um encontro pode mudar totalmente a vida de uma pessoa. Depois que encontrei aquele meu amigo, vamos chamá-lo de Ted, minha relação com o fato de ser soropositivo modificou totalmente. Depois daquele encontro, nos falamos muitas outras vezes. E posso até dizer que começamos uma amizade.
Ted estava convencido que eu sabia que ele era hiv positivo antes do nosso encontro. E que eu mentia para tentar enganá-lo, pois ele acreditava que quase todos amigos em comum e pessoas que encontramos nas baladas sabiam dele. Boa parte porque ele tinha outros amigos soropositivos e eles andavam juntos. Saíam para baladas, restaurantes e faziam festinhas em casa.
Logo ele quis me apresentar esses amigos. Eu relutei. Primeiro por medo de perder o controle de quem sabe ou não de mim, e ter que confiar num número ainda maior de pessoas. Segundo por achar muito estranho um grupo de amigos com se manterem juntos pelo simples fato de terem contraído o HIV.
Depois de alguns encontros e várias mensagens trocadas. Tomei coragem e resolvi ir jantar com o pessoal. Do grupo, eu só conhecia um de vista, vou chamá-lo de Apolo. Apolo era outro que eu não me importaria em ter um relacionamento. Inteligente, corpo sarado e lindo. Mas logo vi que todos no grupo também tinham a mesma vontade. Pelas brincadeiras e principalmente pelos comentários quando ele não estava juntos. E, claro, pela ciumeira por ele ter namorado que não HIV positivo.
Havia mais 3 no grupo. Um muito efeminado e incrivelmente engraçado que sempre falava dele e de todo mundo no feminino. Era bem magrinho e parecia ter uma saúde frágil. Não era feio, não era bonito. Vou chama-lo de Menina. O outro é cara muito estranho e quieto e não conversamos muito, Casmurro. E ainda o baixinho e troncudo Torin que passava cantadas diretas para Ted e Apolo. E parecia ter certeza ser correspondido.
O jantar foi ótimo e todos foram muito gentis e pacientes com minhas perguntas e medos. Cada um contou sua história, algumas corriqueiras outras mais fortes. No fim, me senti incluído no grupo.
Logo vi que de onde Ted tirou a ideia que todos em sua volta sabiam de sua soropositividade. Eles compartilhavam da mesma ideia. E por conversar pouco do assunto com outras pessoas, acreditavam que a notícia tinha se espalhado através de conhecidos, ex-namorados e tudo mais... Quem tinha mais apreensão com isso é Apolo. Seu namorado não sabe que ele é tem o HIV e ele tem medo que ele descubra por outras pessoas. Os outros possuem medo que suas famílias ou colegas de trabalho saibam. O mais legal é que um dava apoio para outro de uma forma ou de outras. Nem que se fosse pelo simples fato de ouvir.
No encontro eles me falaram de algumas regras. Quando eles falavam do assuntos em público ou em mensagens de telefone ou whatsapp não mencionavam o assunto de forma explícita. Só contavam para alguém se fosse inevitável ou com autorização do grupo.

Depois desse jantar fui ficando próximo deles. Principalmente do Ted e do Torin. É bom conversar com alguém diretamente sobre isso. Olhando nos olhos. Dando abraços. É bom poder ter amigos que sabem de tudo.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Encontrei um amigo com HIV

Uma coincidência me levou a experimentar uma estranha série de situações no mínimo surpreendentes. Foi um encontro com um conhecido em uma farmácia ao buscar minha dose de antirretrovirais. Eu que não tenho revelado a minha condição para ninguém me peguei de frente com uma pessoa relativamente próxima. Na verdade, mais do que isso. Uma pessoa por quem já fui interessado no passado.
Não fazia ideia que ele era soropositivo, mas pelo que ele falou, a minha condição talvez seja mais óbvia do que eu tento guardar. Logo depois de uns constrangidos comprimentos e entre olhadas ele me falou algo que me gelou:
_ Eu tinha certeza que você tinha pegado.
A justificativa tinha sido meu emagrecimento e sumiço. Ele disse que teve vontade de falar comigo, mas que não sabia como eu iria recebe-lo. A conversa tomou um rumo amigável e resolvemos esticar o encontro num restaurante não muito longe dali. Sentamos, conversamos e começamos uma sessão de confidências mutuas. Que talvez se tivesse pensado duas vezes não as teria feito com tanta abertura e sinceridade.
Lembramos da época que saímos juntos. Sem que eu revelasse que naqueles dias tinha sentido algo muito forte e imaturo por ele, e por isso tinha me afastado em certo momento. Ele pareceu não ser consciente disso. E me descrevia como apenas mais um dos amigos de uma época muito agitada de nossas vidas.
Ele me contou como contraiu o vírus e, por ser um caso tão específico, não posso descrever aqui. Mas me levou a deixar emocionado.
Até então parecia que uma nova amizade nascia. E quem sabe o mundo de possibilidades que aquele encontro poderia trazer para minha vida. Alguém próximo para trocar informações. Alguém para pedir socorro nas horas de aflição. Foi então que a conversa tomou um rumo estranho...
Ele começou a insinuar que eu já sabia que ele era HIV positivo antes daquele encontro. Que ele tinha certeza que todos sabiam. Todos nesse caso é um conjunto de amigos em comum. Que não era para eu me importar e falar a verdade, que aquilo não importava mais para ele. Quando eu neguei que suspeitasse dele. Ele se tornou um pouco ríspido como se eu tivesse mentindo e se apressou a pedir a conta.
Eu não entendi o que estava acontecendo. Parecia que tinha dito algo que contrariava o que eu mesmo falava. Achei tudo muito estranho.
Nos levantamos e fomos até a estação de metro. Ao nos despedir, ele ainda se manteve frio. E soltou um “até a próxima”.  Passei a catraca. Vim pelo caminho pensando no que tinha se passado. Tentando lembrar o que eu fiz de errado. Ou justificar o desencadear daquela atitude.
Fiquei chateado e não voltei ao trabalho, não fui na academia e nem mesmo assisti televisão. Fiquei um tempo olhando o perfil dele no Facebook tentando encontrar uma pista, um sinal, qualquer coisa... 

Tomei o remédio e fui dormir. E acordo no meio da noite, agora, sem sono e com um pensamento que está me incomodando. Por que fui confiar nele? Por que fui contar certas coisas? Será que ele vai contar algo para alguém?

Por precaução, achei prudente não escrever nada para ele agora, mas vou esperar até amanhã e vou fazer contato. De qualquer maneira preciso tirar isso da cabeça. Vou torcer para que tudo seja apenas um mal-entendido com uma explicação razoável.