sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Um Segredo Guardado em Papel e Ar

Um tema difícil para mim. Como me relacionar com as outras pessoas sendo um portador do vírus? Eu ainda francamente não sei. Decidi não contar para ninguém que não seja extremamente necessário. Ou seja, além dos profissionais da saúde que temos que ter contato, toda o compartilhar sobre o assunto teria que ser anônimo.

Não quero ver nos olhos de meus conhecidos uma mudança em relação a mim. Quer seja pena, preocupação ou medo. Que seja até mesmo algo positivo. Pelo menos isso posso preservar da minha vida anterior. Talvez seja mais fácil para mim tomar essa decisão, pois tenho alguém que sabe por perto. Mas posso contar nos dedos as vezes que conversamos sobre o que sinto de forma profunda. Geralmente são superficialidades e objetividades. Somente quando não deu mesmo para segurar.

De qualquer maneira, acho que a pessoas mais adequada para ter essa conversa se chama psicólogo. Alguém cuja profissão é justamente escutar o outro e tentar desvendar os mistérios da nossa subjetividade que afetam a qualidade de nossa vida.  Quem não tem psicólogo, sugiro conversar nos blogues, fóruns e chats. Mas acredito no poder terapêutico de colocar para fora os pensamentos.

Na vida direta, na familiar, na profissional e no grupo de amigos, escolhi não trazer o assunto. Respeito e admiro enormemente quem resolve abrir para todos. São corajosos e fortes. E também não digo que um dia não o farei. Aprendi a não escrever nada em pedra. Mas nesse momento, me basta o que tenho.  Sei também ser fundamental compartilhar com a pessoas que resolver seguir com você uma vida amorosa, fico devendo um post sobre isso.

Porém também não quero deixar que esse segredo me consuma. Veja que hoje o mundo é uma vila do interior. A privacidade é cada vez menor. E por experiência própria sei que quando a gente quer muito guardar algo para si, as vezes as coincidências colocam tudo a perder. Então, devo relaxar também. E respeitar a decisão do Destino. Esse hábil construtor e destruidor de certezas.

Se eu for contar, acho que cerca de 10 a 20 pessoas vão me conhecer e saber o que tenho. Seja o pessoal da farmácia onde buscamos o remédio, seja onde recolho os exames de sangue e ainda o Dr. Interrogação e a sua secretaria. Bastante o suficiente para que um dia, um amigo de uma amiga de um conhecido faça o telefone sem fio. 

Não dá para ser neurótico com a possibilidade dessa informação percorrer os elos de uma cadeia entre você e esses conhecidos. Se for acontecer, mesmo se você usa uma peruca, maquiagem, óculos escuros, boné, roupas que disfarcem e etc, um dia pode acontecer a mais fantástica das coincidências e pronto.  Tome seus cuidados, mas entenda que o controle sobre tudo e todos não é possível. Afinal, você não estaria nessa posição se assim o fosse. Relaxe.


Por enquanto, minha vida ganhou mais um segredo que influenciará na forma como me relaciono com as pessoas. Após o início do tratamento, guardar esse segredo ficou um pouco mais complicado, mas já guardei segredos maiores. Guardo segredos meus e de meus amigos de forma exemplar.  Esse terá que ser mantido enquanto fizer sentido. Enquanto na balança me trouxer mais bem do que qualquer outra coisa.   

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