quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Dividindo talheres, Copos e Paranoias

Ontem notei que faz muito tempo que não escrevo. Na verdade, nem visitar outros blogues sobre assuntos e fazer pesquisas eu andei fazendo... Acho que me deixei levar pelo estado de alegria de ter novos amigos com quem conversar diretamente sobre os diversos assuntos que trato aqui. Ao mesmo tempo, meu estado de saúde melhorou conscientemente nos últimos meses e mesmo o tratamento parece ser algo tolerável com seus efeitos colaterais que vão do perceptível ao moderadamente incômodo. 
Também seria um bom final deixar no blogue a história da descoberta até a adaptação da minha condição de HIV positivo. Mas essa semana acordei mal. Com alguns gânglios inchados na garganta. Uma dorzinha que vem volta na pálpebra também estava presente. Além disso, perdi 2 kg em alguns dias. Tudo isso foi perceptível para mim, meus amigos e familiares. E me fez ver que estou longe de estar resolvido com qualquer questão relativa a ser HIV positivo. 
Somando-se a isso existe um certo estado de saturação com os novos amigos. Eles se tornaram como um gueto do qual não sei se quero ser parte. Para completar, meus antigo amigos e familiares olham essas novas amizades com certa desconfiança. De onde vieram essas pessoas? 
As nossas regras para podemos falar do assunto provaram-se muito úteis. Principalmente durante nossas saídas noturnas, que são momentos que ficamos bem expostos. Cada um de nós tem uma vez pré-HIV que tem um certo conflito com essa amizade por "afinidade".  Ciúmes e curiosidade dos outros são constantes. 
Eu mesmo tive que ser bem criativo para contornar uma situação na qual sai com eles e encontrei outros amigos muito próximos que obviamente quiseram ficar por perto tentando entende o que nos unia. Nesse dia, eu realmente compartilhei com o grupo do 5 da paranóia que muitos sabiam de nós sem que fosse falado abertamente. Mas preferi acredita que caso isso chegue aos ouvidos dos meus outros amigos que ele venham conversar diretamente comigo. Mesmo sabendo que talvez eu não fizesse isso. 
Nesses dias que o medo da doença voltou com tudo. Também algo estranho aconteceu. Comecei a perceber que meus novos amigos tinham um segredo qualquer não me contavam. Não sei se porque ainda sou considerado um calouro ou por não ter ganhado a confiança deles. Ou talvez, o que seria pior, fosse algo ruim que eles não deveriam contar para ninguém. Tentei sondar aqui e ali, mas tudo o que pude confirmar é que há algo que não foi me dito. 
A primeira coisa que veio à minha cabeça foi algo bobo, mas depois pareceu ser algo mais sério. E então o fato de nos chamar de clube dos 5 e o clima paranóico que estava se instalando me fez pensar em algo terrível relacionado ao aqui já comentado "Clube do Carimbo". Chegar a pensar nisso me fez correr às bulas dos remédios que tomo para verificar se paranoia era um efeito colateral. Não encontrei, mas vi vários outros me incomodam... Que ficam para outro post. 
Depois de uma boa noite bem dormida, acho que exagerei na suspeita, mas de qualquer modo fiquei um pouco de saco cheio de toda essa situação. E todo o peso de ser portador do HIV se apresentou de uma forma que a muito tempo não aparecia. Vou chamar essa sensação de Síndrome do Maculado. Uma mistura de uma melancolia e aversão pelo estado que me encontro que se soma a um sentimento de solidão. Sei que vai passar. Sei que não é o fim do mundo. É seguir em frente.