quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Gratidão

Após dois anos de tratamento, estava na hora de fazer um reavaliação pessoal e subjetiva dos ganhos e perdas. Simplesmente por estar vivo e com incrível saúde, só tenho que agradecer por viver em uma época com tantos recursos à disposição. 
Viver dependente de uma pílula deve ser sempre algo a ser temido e evitado. Pílulas não nascem em árvores e os antirretrovirais dependem de uma cadeia complexa de pessoas e recursos para existirem. A facilidade de ir em uma farmácia pública e receber um remédio de graça nos distanciam do problema real, da fragilidade de nossa situação e dependência de uma sociedade estável e próspera. 
Sim, imagine ter que pagar pelos caros remédios de alta tecnologia que tomamos uma vez por dia. Imagine se tivéssemos que cumprir uma série de exigências para renovar nossa acesso ao remédio. 
O sistema como existe no Brasil é francamente superprotetor e facilitador para o infectado e nós ainda reclamamos. 
Então pense sobre isso, se você é portador de HIV lembre de todo o contribuinte, político e apoiadores que fizeram sua saúde ser preservada da melhor maneira possível. 
É claro que há vantagens para que a sociedade tenham essa atitude, entre elas controlar uma possível epidemia, reduzir custos relacionados a saúde pública, etc...  Mas devemos ter em mente nossa gratidão. 

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Fé e Saúde


Eu passei boa parte da minha vida sem fé alguma. Não me preocupava com isso e quando me perguntavam sobre questões existenciais eu respondia... O que será, será...



Porém fatos que não conseguia explicar começaram a se repetir com frequência, alguns bons, outros ruins. Minha saída foi procurar um bom psicólogo... Como é difícil encontrar um bom psicólogo. Passei por charlatões e pessoas limitadas, ou até mesmo aqueles que pareciam ter comprado o diploma na esquina. Não iria deixar meu cérebro  a mercê de uma toupeira. Antes de ser investigado, procurei investigar o que um analista ou terapeuta deveriam ter para serem confiáveis. Após várias tentativas encontrei um homem sério com quem tive várias sessões, ao poucos fui me vendo de uma forma que não esperava, mas me fazia entender impulsos e fragilidades que não percebia ou não queria ver. Também encontrei pontos forte e talentos. Em outras palavras, foi um encontro comigo.  Um efeito colateral dessa experiência foi passar a ver o fato de existir com uma curiosidade incontrolável. Foi então que comecei a me interessar sobre o que há por trás de todos esses dogmas religiosos e misticismos. Encontrei um caminho espiritual muito conciso que me fazia muito bem. Alguns anos mais tarde, receberia uma das notícia que mais mudaria minha vida. Claro que questionei muito minha vida espiritual e quis colocar a culpa em algo fora de mim pelo que eu estava passando. Aos poucos me reconciliei com minha espiritualidade, foi muito importante para passar momentos difíceis. Só por isso, eu já sou grato. Mas algo mais aconteceu... Claro que toda a sabedoria dos médicos e tecnologia de produção de exames e remédios são responsáveis por eu estar aqui vivo. Mas também tiveram um claro reforço de um sentimento que cresce em mim chamado Fé. Assim como outros conceitos espirituais, é difícil definir a fé. Basicamente é considerada como a crença em algo. Pode ser a fé cega, aquela que nega a realidade para acreditar naquilo que conforta. Pode ser a fé racional, que requer provas e certezas para se estabelecer. Mas há a fé verdadeira, aquela que não nega a realidade, mas a desafia. É como assistir um filme que você ama, você sabe que é um filme, feito por atores e efeitos especiais, mas se permite acreditar e viver aquilo. Hummm... Você deve está pensando... Espera! Isso é a própria definição de uma ilusão. Eu responderia, mais ou menos... Na verdade, há algo verdadeiro quando você assiste o filme e se deixa acreditar pelo que vê. Dentro de você um sentimento surge, um sentimento tão verdadeiro quanto uma dor de dente ou o calor de uma panela no fogo. Você sente e pronto. É esse sentimento que faz a diferença. É esse o lado da fé que auxilia a cura, o bem-estar. É o sentimento que interfere no seu corpo piorando se for negativo ou melhorando quando positivo. Pesquisas sérias de vários institutos e organizações falam sobre o poder  da Fé sobre o bem-estar, a saúde física e psicológica. Então minha sugestão para você é procure uma Fé que lhe faça bem. Você pode se surpreender com o bem que isso irá fazer para você, além de religar sua consciência à razão de sua existência. 


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Tic Tac... Tic Tac... Ou meia década.

Coloque mais 5 anos na sua idade. Se você tem 20, tem na verdade 25. Se você tem 40, tem na verdade 45. Assim funciona para o portador do HIV em tratamento com os antirretrovirais.
Em pesquisa recentemente divulgada o portador de HIV tem idade biológica acrescentada em 5 anos. Acho que a grande maioria das pessoas que conheci e estão em tratamento podem confirmar esse estudo em sua percepção subjetiva. O impacto dos primeiro meses é tamanho que você entende que seu corpo e vitalidade não são mais o mesmo. Seu rosto e corpo parecem acompanhar um ritmo diferente de envelhecimento também. As rugas, os cabelos brancos, a flacidez, as manchas e todos os sinais de envelhecimento aparecem mais frequentemente. Que pena que não ganhamos a cinco anos de sabedoria no processo, seria uma boa compensação. Na verdade, o impacto com nossa mortalidade e vulnerabilidade força um amadurecimento precoce também. Mas não é para todo mundo. E pelo número de adolescente tardios, de tiozões "pagando de garotinho", de senhoras plastificadas tentando ser mais novas que suas filhas e toda sorte de gente que se recusa a viver sua própria idade, talvez nosso envelhecimento precoce também tenham reflexos em uma personalidade mais madura, sim. Não estou dizendo que os senhores devam jogar dominó na praça e as senhoras devam fazer um tricô legal, mas a busca pela juventude eterna não faz bem para ninguém. Vivemos querendo parecer em vez de ser.
De qualquer modo, essa descoberta pode ser um incentivo para que procuremos mais saúde e qualidade de vida. Também é um convite sobre o significado mais profundo de nossa um pouco mais breve existência. Tenho cada vez mais pensado nisso e buscado também... Um sentido maior para tudo isso. Veremos.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

A saúde do portador de HIV

Em meio a surtos de Dengue, Zika e Chikungunya, surge o surto de H1N1. E você já possui HIV, se não possuir outras co-infeções. Tudo isso vai a gente pensar em cenários apocalípticos. Não se engane, os mais adaptados e mais fortes irão sobreviver, pelo menos mais. Então, você que tem uma saúde mais ou menos controlada, deve fazer um esforço ainda maior por você mesmo. 
Como disse no post anterior, somos velhinhos antecipados. Pulamos 10 a 20 anos a frente, para um momento que nossas saúde requer mais cuidados. Somos aqueles que tem prioridade nas filas e nas políticas de saúde. Somos aqueles que precisam encarar alguns fatos existências mais cedo. Afinal, ninguém sabe quando vai ter que lidar com complicações, mas nós esperamos por isso, como quem está para se esperar sabe que terá que lidar com o pós-operatório. O fato é mais sólido e concreto na nossa frente. 
Ainda me pego tendo aftas e outras dores estranhas. Me pego também mais cansado do que o normal e em momentos de tristeza mais frequentes. Tento me enganar que posso levar uma vida normal, mas qualquer porre, saída para uma festa ou mesmo o trabalho do dia a dia nos lembra que somos "especiais". 
As pessoas que convivo e tem HIV tem problemas parecidos. Em conjunto, somos como aqueles velhinhos de filmes que tentam cuidar um dos outros. Mas nem na velhice chegamos. 
A saúde do portador de HIV pode ser boa, mas não é ótima. Ou pode ser ótima, mas não é excelente. Quero dizer, por mais que você se trate e leve uma vida regrada, você está sim mais vulnerável a doenças e limitações. O quadro geral de um portador de HIV é de uma pessoas em envelhecimento precoce. Quer ver como você é e o que deve fazer para se cuidar, veja os mais velhos, com ou sem HIV. Veja o hábito de pílulas, exercícios e cuidados médicos e psicológicos. Mire nisso. É o melhor que pode fazer. Se tiver alguma fé, não deixe de cuidar desse aspecto, que pode ter impacto positivo no seu tratamento também. Um dia farei um post apenas sobre isso. 
Quanto mais cedo você aceitar sua nova situação e viver de acordo com seus novos limites, menos mal vai fazer para você e mais resultados vai colher. Ignore que você não é mais aquela pessoa de antes da doença e corra riscos, que podem ou não se concretizar. Mas para quer correr isso? 
É um conselho que eu mesmo preciso ouvir mais. E um conselho que deixo para você. 

Fazer menos mal aos outros e a si

Logo quando comecei a escrever esse blog lembro de ter falado sobre uma das coisas mais contraditoriamente positivas de ter HIV, aquela sombra da finitude que algumas pessoas vão descobrir tarde da vida se manifesta. A consciência que vamos "desaparecer" vem antecipadamente e devemos fazer certas escolhas.
A primeira reação é tentar cuida si melhor, levar uma vida mais saudável. O que requer uma dose grande de força de vontade e disciplina. Pergunte para qualquer pessoas, se ela está pronta para se salvar tendo abrir mão de certos hábitos e criar novos. A maioria vai dizer que sim. Outros tantos vão por o plano em prática. Poucos vão levar à risca. O fato é que o controle da doença engana. Faz que a gente se sinta quase normal e aos poucos volta a certos hábitos que são insustentáveis na nova vida.
A vida de um portador de HIV deve ser antes de mais nada regrada. Menos álcool, melhor alimentação, evitar fumo e substâncias nocivas. Você geralmente se torna um velhinho antecipado. tem tendências a algumas doenças, as consultas aos médicos e exames são mais frequentes e sua fisiologia não acompanha mais à das pessoas da sua idade. Você se vê pegando sobre o fim mais constantemente. E tudo isso tem um efeito longo e crucial em toda sua vida. Você não é mais o mesmo. E quanto mais rápido você aceitar isso, melhor para você e para aqueles a sua volta.
Se você se negar, a vida vai tratar de mandar seus recados. Uma inflamação aqui, outra ali. Uma dor aqui, outra ali. Um nova doença. Um novo sintoma. E por aí vai...
Estou chegando ao final do segundo ano de tratamento com bons resultados e com boa adesão. Tenho a sorte de ter a experiência de muitos que já estão nesse caminho a alguns anos. Tenho a sorte de viver em um mundo que a informação pode estar logo depois de um clique na internet. E olhe que já reclamei da falta de informação sistematizada. Mas não se engane, sou grato e tenho noção da sorte em relação a outros períodos e doenças que existem no mundo.
Mesmo assim, tudo ainda é duro e imprevisível. Fico vendo os meninos de hoje em dia que simplesmente fazer roleta russa com seus parceiros sexuais. Fico vendo aqueles que decidem partir para o viver agora como o último dia sem ver as consequências. E tento me enganar achando que não sou igual que também já não fui, sou ou serei assim. Mesmo que pontualmente. Mas o mundo está aí para garantir que a gente não tenha um vôo muito alto sem se descolar da realidade.
Hoje eu acordei assim. Pensando em quem já foi, em quem irá. Pensando em mim, e em tudo que passei para chegar até aqui. Não existe saída para nós. Talvez nunca existirá. Mas podemos ter algo que é tão precioso quanto importante e pode ser decisivo para que gente chegue pelo menos um pouco mais longe: uma consciência um pouco maior da frágil, ilógica e linda existência humana.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Living With HIV

Acabo de voltar de uma viagem à New York. Do momento em que coloquei os pés no avião até agora, eu só pensava em escrever sobre minha experiência por lá. Foi maravilhosa, foi difícil e foi o que precisava ser.

Como passei quase quinze dias por lá. Resolvi me matricular em uma academia para poder não sair de forma. Fui em uma sugerida por um amigo que falou coisas boas sobre a frequência de gente bonita e descolada. Foi lá que encontrei Denis, um homem um pouco mais novo do que eu e lindo. Notei que ele me olhava pelo espelho da academia e fui gastar meu inglês com ele. Primeiro com aquele papo de academia que não quer chegar a lugar nenhum. Depois perguntando sobre o que fazer na cidade. Ele pareceu interessado, mas foi isso. Quando fui ao banheiro, ele foi embora logo em seguida.

No dia seguinte, depois de um ótimo almoço, um pouco museu e Central Park, resolvi voltar no mesmo horário. Claro que já querendo encontrá-lo. Lá estava ele devidamente acompanhado por um outro homem ainda mais bonito e um pouco mais velho. Aparelho vai, peso vem. Olhada aqui, olhada ali. Ele se aproxima e me fala para encostar melhor minhas costas no banco, pois poderia me machucar. Realmente, estava fazendo bem displicente e distraído. Retomamos a conversa. Contei sobre o meu dia e descobri que meu apartamento ficava apenas algumas quadras dos deles. Em um impulso, chamei para uns drinks em casa no dia seguinte após o trabalho deles. Toparam.

Arrumei a casa. Fiz compras. Desperdicei um dia me preparando para o que parecia que seria mais provavelmente uma nova amizade. Claro que eu tinha todas as piores intenções. Fui na academia, eles não estavam. Fiz um treino rápido e voltei para esperar por eles. Chegaram na hora marcada uma vinho barato nas mãos e uma garrafa de vodka. Começamos a beber, falando de todas as bobagens que se pode imaginar. Até o momento que a conversa começou a ficar parecendo uma paquera com elogios mútuos. Então aconteceu um beijo entre eles. Demorado. Fiquei muito sem graça, deixando um que ótimo em português mesmo.

Eles riram e vieram na minha direção. Tiramos a roupa e fizemos sexo, devidamente protegidos. Foi ótimo, ficamos nos abraçando e beijando após o sexo. Em certo momento, Denis foi no banheiro e fiquei com Paul. Depois eu fui. Ao entrar no banheiro, vi que haviam mexido no gabinete, pois deixaram a porta encostada. Achei estranho, e me toquei que havia deixado dois homens que mal conhecia sozinhos no quarto. Quando voltei, lá estavam eles como havia deixado.

Ali começou um namoro entre nós com data para acabar. Eles me mostraram alguns lugares da cidade no seu tempo livre, e eu fiquei entre o meu apartamento e o deles durante a viagem. Para quem tinha decidido ficar sozinho, foi um período muito cheio de gente. Notei como eu andava carente de afeto e de ter um relacionamento. Mesmo naquele faz de conta. Mas o mais especial foi uma carta que deixaram em minha bagagem de mão sem que eu percebesse. Quem ainda escreve cartas? Adorei. Li como sorriso e lágrimas. Transcrevo em português um trecho que especialmente me tocou:
"Temos que nos desculpar antecipadamente. Mas a curiosidade não matou o gato. Vimos que você é positivo e resolvemos não conversar sobre isso. Acredite isso não é um assunto para nós. Ficamos felizes por você se cuidar. Não deixe de se cuidar. Se você não quiser falar conosco por conta dessa intromissão, vamos entender. Porém não é isso que queremos. Só queríamos que você soubesse que sabemos e que está tudo bem para nós. Se acontecer, quando nos falarmos por e-mail ou whatsapp na próxima vez saberemos que você não se importou. Se for assim quem sabe nos veremos outra vez no Brasil em breve ou por estas vizinhanças".
Claro que já enviei uma mensagem confirmando que está tudo bem. Acho que o que estou sentido é o mais próximo possível do que as pessoas falam de se apaixonar por dois ao mesmo tempo. Onde eu compro as passagens para voltar?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Revisão no Fim do Fim do Carnaval

Carnaval passou. Eu tive um bom carnaval. Divertido e namoradeiro. Viajei para o Rio, fui em vários blocos, na Sapucaí, na The Week de lá. Também teve muita praia, paquera e tudo aquilo que se espera de um carnaval solteiro.
Como fui com amigos que tinha antes de ter contraído o HIV, eu quase esqueci totalmente do doença. Quase. Primeiro, o remédio diário não deixa esquecer. Nem mesmo certas limitações. Mas o que mais me acordou para o meu estado foi justamente o sexo. Não porque eu estava com medo de passar algo para alguém ou qualquer encanação dos primeiros meses que tive sexo, mas simplesmente por verificar que as pessoas simplesmente não estão usando camisinha, quando elas não brocham ou te dispensam por usar. Se eu tivesse que voltar no tempo, eu usaria camisinha até no pensamento com um estranho. Mas as pessoas estava sem limites. Ouvi de tudo:
_ Põe só a cabecinha e tira.
_ Quero que goze na minha boca.
_ Mete sem capa mesmo.
_ Eu brocho se tiver que usar camisinha.
Até o inusitado:
_ Tenho alergia ao latex.
Tudo era pretexto para querer tirar a camisinha e fazer sexo.
Sim, eu fui um pouco promíscuo neste carnaval, mas fiz sexo seguro. Como deveria ter feito. Camisinha e protegendo inclusive que não queria ser protegido.
Na minha conta foram 12 parceiros em 7 dias, sendo que cinco pediram para não usar camisinha direta ou indiretamente.
Fiquei com muita vontade de perguntar se eles não tinham medo de contrair HIV, e se já tivesse, se não tinha medo de pegar outras doenças. Fiquei curioso para saber se estavam tomando os remédios como profilaxia e por isso estavam aberto a fazer sexo desprotegido. Fiquei na dúvida. Era carnaval e eu só queria brincar.
Ao mesmo tempo, me peguei pensando se as políticas públicas de HIV estão indo para o buraco. Ou se as pessoas não estão nem aí. Notei que o número de pessoas falando da importância de usar camisinha em propagandas, na TV e outros meios não era expressivo com em outros carnavais. Talvez tenha sido meu estado de espírito que tenha desligado a minha atenção.
Então eu encontrei o 13° parceiro. Posso até dizer o nome, se chamava Luis (ou Luiz). Era lindo, tinha apenas 23 anos de idade, um corpo perfeito com músculos no lugar certo, um pelo ralinho no peito e acima da bunda. Eu estava totalmente encantado por um menino tão mais novo que eu. Estávamos bêbados. E pela temperatura do corpo e pelo jeito de olhar e falar, tenho certeza que estava um pouco alterado de alguma droga também. Começamos a nos beijar. Eu já pensando que tinha encontrado o homem mais lindo na cidade para terminar o carnaval comigo. Até que ele tirou a camisinha na hora que iria colocar. Sem que eu percebesse. Mas por sorte coloquei a mão lá e vi que ele estava sem. Brochei na hora. Perguntei para ele como ele poderia fazer aquilo. Ele disse que tudo bem que não tinha nada. Eu falei, você nem sabe se eu tenho ou não. Você não perguntou se eu permito ou não. Ele olhou para mim, sorriu, os olhos encheram de lágrimas e ele chorou. Pode ter sido o álcool, algo que tenha tomado, o estado emocional, algo mais,  ou tudo junto. Eu abracei. E conversamos. Saímos do hotel para tomar um sorvete, e no caminho ele me pediu desculpas. Falou que não tinha feito isso antes, que tinha sido o tesão do momento. É claro que não acreditei. Mas expliquei para ele, todos o problemas que ele pode ter com aquele ato. Ele sempre muito carinhoso e ao mesmo tempo másculo, ouviu sem atenção. Após o sorvete, eu resolvi encontrar os amigos que estavam na praia. No caminho, vi o mesmo rapaz conversando com outro cara que já estava com a mão por dentro da calça do rapaz, no meio de um bloco de rua que estava passando. Todas as pessoas em volta passando como se nada estivesse acontecendo. Homens e mulheres, gays, lésbicas, todos muito a vontade. Alguns fazendo coisas igualmente sexuais no mesmo bloco. Essa é a imagem que mais me marcou nesse carnaval. Mais pelo que eu senti do que pelo que já tinha visto em vários outros dias. Um festival da carne que talvez mude a vida de muita gente.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Eu entendo Charlie Sheen



Eu também já parei de tomar a medicação. Eu entendo Charlie Sheen. Hoje, a primeira notícia que ouço é que ele resolveu suspender a medicação e tentar um novo tratamento e que está plenamente consciente dos riscos que isso pode ter em sua vida. Ele avisa: "Eu já nasci morto", em referência ao fato de que a morte vem para todos cedo ou tarde.
Eu entendo Charlie Sheen. Acordar todos os dias um pouco grogue dos remédios. Ter que lembrar todas as noites de tomar uma pílula. Ter que consumir menos álcool, drogas e ter uma vida mais regrada. Limitações para baladas noturnas. Interações medicamentosas.
Eu entendo Charlie Sheen. Suspender a medicação é uma fantasia que temos. Tem efeitos imediatos na pessoa que suspende a medicação: a suavização de alguns efeitos colaterais.
Charlie Sheen tem mais acesso a pessoas e médicos que propõem tratamentos alternativo, ele também, mesmo que esteja quebrado, tem mais dinheiro que maioria das pessoas para se arriscar e buscar novas formas de tratamento "alternativo".
Eu também já parei de tomar a medicação por dois dias sem querer, pois fiquei sem o remédio. Um dia também esqueci. Tive muito medo das consequências, mas depois de me informar vi que os riscos eram mínimos. Mas que obviamente não deveria deixar isso acontecer mais.
É claro que não pretendia, e nem pretendo, para a medicação. Pelo menos, sem algo seguro para optar. Não tentaria tratamentos "alternativos" ou curas milagrosas sem o respaldo da comunidade médica. Mas o Charlie Sheen que faça o que bem entender. O complicado é a mídia fazer um carnaval em torno disso. Muitas pessoas podem se sentir incentivadas a buscar soluções que são inócuas para a cura ou melhoria do estado geral da saúde. Charlie Sheen sabe que se algo der errado pode voltar a tomar a medicação e ainda ter chances de melhorar novamente. Resolveu brincar com a roleta russa médica, se sair vitorioso, triunfará historicamente. Sim, existe uma probabilidade no desconhecido, mas acredito que seja tão remota como ganha na loteria três vezes seguidas. Se ele se curar realmente, terá provado ao mundo que a cura estava entre nós e não sabíamos.
Se não conseguir, será apenas um caso melancólico de inúmeros que tentam encontrar um atalho para cura sem conseguir. Desejo sorte, ao Charlie Sheen. Desejo mais responsabilidade da mídia. Desejo que os amigos e amigas continuem o tratamento convencional até que a ciência ou a loucura encontre uma cura definitiva. Pode ser que seja logo. Tenhamos fé e paciência.