sexta-feira, 26 de junho de 2015

Abusando da fé alheia e Namoro Virtual para Gays e Heterossexuais

Alguns dias atrás, eu estava olhando um dos blogs sobre a vida de HIV positivos e me deparei com um comentário de um post que me chamou atenção. Alguém falava sobre como era manter a forma sendo HIV positivo, se era possível ficar "sarado" e com boa aparência mesmo em tratamento e etc.
Depois de alguns meses em tratamento e quase três anos infectado minha opinião é que é ligeiramente mais complicado ficar continuar em forma depois do tratamento. Algumas coisas podem ser mais complicadas do que eram antes e certos artifícios parecem ser mais perigosos como remédios, dietas e outras coisas que poderiam ser tolerados por um organismo saudável em sem a sobrecarga da química do tratamento. Porém, se você tiver se conscientizado sobre a necessidade de ter uma vida mais saudável em todos os aspectos, você pode não ter tantas dificuldades para adquirir uma aparência até melhor do que tinha antes. Porém vários fatores devem ser considerados, incluindo aí sua adesão ao tratamento, sua qualidade de vida e seu padrões de beleza. Nem todos poderemos ser Jack Mackenroth, o modelo que se revelou ao mundo como HIV positivo e tem um corpo muito acima da média dos padrões mundiais.


Levando em consideração que para o padrão de beleza internacional, ele tem o formato de corpo e rosto lindos.  E também que ele já deveria ser mais ou menos assim antes da contaminação. Manter é mais fácil do que adquirir. Foi nesse mesmo post que eu fiquei sabendo da existência de Mackenroth, foi também nesse post que fiquei sabendo sobre a existência de uma rede social apenas para HIV positivos: volttage.com . Não por acaso, Jack é modelo do site.


Como sou gato escaldado, achei que toda essa referência com ares de propaganda era uma espécie de pescaria de clientes e fui verificar a tal rede social. Até onde eu fui, dava para ver outros usuários e mandar mensagem para eles sem ter que adicionar nenhum número de cartão de crédito. Tudo me pareceu honesto e privado como as demais redes sociais e aplicativos sobre o tema. Vale falar que eu não fui utilizei muito para saber se em algum ponto não é cobrada alguma taxa ou se é grátis por um período de tempo.

Verifiquei ainda muitos usuários brasileiros, na sua maioria das maiores cidades do país. Algum extremamente corajosos ou libertos do auto-estigma mostram fotos de rosto. Há muito gringo também procurando um brasileiro para chamar de seu. No mais, é como toda a rede social exclusivamente gay, muita gente carente, muita gente procurando sexo selvagem e fluxos fortes de testosterona.

Dizem que o Volttage foi idealizado pelo Jack sendo a primeira rede social para esse fim. Porém, se há uma rede gay, também tem várias redes sociais heterossexuais e misturadas. Veja uma lista, mas como não testei confira por sua própria conta e risco:

http://personals.poz.com - para qualquer perfil de HIV+
http://www.afropoz.com - para público afro HIV +
http://www.pozmatch.com - outro site bem geral
http://www.hivandsingle.com - para solteiros e românticos

Por que por conta e risco? Sabemos que o público HIV positivo é emocionalmente atingido pelo estigma social. Você pode ser uma exceção por ser uma pessoa forte e absolutamente resolvida. Mas acredite que o coletivo das pessoas vivendo com HIV tem um nível maior de fragilidade emocional que o resto da população. E sabemos também que existe pessoas que são claramente sem escrúpulos na hora de abusar da fé alheia. Então, mesmo que você tenha muita certeza do que está fazendo, tenha cuidado e tenha um pouco de malícia. Será que a propaganda condiz com a verdade?

Mas veja bem, isso não deve ser um empecilho para que você tente se relacionar por meio de um desses sites. Pelo contrário, isso deve ser uma arma para que você se assegure da sua segurança e privacidade.

Algumas dicas:

- Não precisa se expor totalmente nesses sites. Coloque uma boa descrição e uma foto de corpo ou de desfocada. Se sua vida for um livro aberto e não tiver nada a temer, ainda sim, pense bem antes de colocar uma foto do seu rosto.
- Se procura apenas sexo casual, não há necessidade de apenas usar esse site. Se você quer algo mais sério também não vá revelando sua vida logo no primeiro contato. Quem está disposto a algo mais sério tem paciência e quer conhecer melhor a pessoa.
- Não passe informações confidenciais como telefones fixos, endereços e outras formas de ser identificado ou perseguido.
- Está ficando sério? Tente se assegurar que a pessoa com que você está falando existe e se parece com a descrição que ela dá. Marque um primeiro encontro virtual por meio de Skype ou outro programa semelhante. Crie uma conta apenas para isso com um nome fictício, é claro. Vocês podem combinar de se revelarem ao mesmo tempo e aos poucos. Assim, mantém uma certa segurança. Lembre-se que mesmo assim a pessoa do outro lado pode estar agindo com má fé então, vá com calma.
- Marque o primeiro encontro em um local seguro. Locais públicos e com certo movimento pode ser melhor para isso, como shopping centers, museus, restaurantes e bares. Faça o passo anterior para ter certeza que você vai reconhecer a pessoa no encontro.
- Desconfie se você quiser se revelar, mas a pessoa não quiser de jeito nenhum, se você marcar um compromisso e a pessoa não aparecer. Se a história da pessoa mudar de uma versão para outra. Se a pessoa for muito fantástica e perfeita. Enfim, use o bom senso.
- Não deu certo na primeira, tente várias outras... Se é difícil encontrar alguém ao vivo, imagine por meio de sites e aplicativos.
- Não tenha altas expectativas, não espere encontrar perfeitos príncipes e princesas. Seja realista.

Depois desse post, você não tem motivo para ficar aí se lamentando sobre não ter como encontrar alguém HIV+. Vá a luta. Se não tiver pessoas da sua área, comece ajudando a divulgar a ideia nos comentários dos posts dos outros blogs, nos grupos de mensagens e outros meios que tiver. Ainda vale a pena conhecer pessoas e bater bons papos.

Boa sorte.



sábado, 20 de junho de 2015

Manual de como viver com um HIV positivo - parte II - É o HIV ou algo mais?

Uma das coisas que você sempre ouve quando falam de HIV e AIDS é que as pessoas não morrem de HIV,  mas de doenças oportunistas relacionadas à baixa imunidade. Ufa! Que alívio! Para não dizer ao contrário. Um portador do HIV tem como uma das principais preocupações da sua vida sua própria saúde. Considerando que isso deveria ser uma preocupação de todas as pessoas, e considerando que mesmo assim, a maioria dos portadores simplesmente vão levar uma vida comum com certos abusos e faltas de cuidados, essa é uma característica que pode influenciar muito na vida, ou qualidade de vida, com um HIV positivo.
A pergunta de ouro é: É o HIV ou algo mais? Porque a pessoa em tratamento ou não continuará a ter mudanças de humor, apetite, peso, gripes, resfriados e dores de cabeça. Mas todas elas vem acompanhada de um toque a mais. Se a pessoa demorou um pouco para iniciar o tratamento, e teve um momento de saúde frágil essa paranóia pode ser ainda mais forte e constante. Se a pessoa, está em tratamento, há ainda a questão das ingestão de substâncias químicas, que mesmo que comprovadamente salvam vida, também trazer efeitos colaterais diversos a curto, médio e longo prazo.
Se o portador de HIV com quem você vive for desligado ou desleixado com a própria saúde, você pode acabar assumindo esse papel. Ou ainda pode ser como aquelas relações ruins (no caso, da pessoa com sua própria condição de HIV positivo), que vão se acumulando pequenas mágoas até que em algum momento há uma explosão. E essas explosões podem atingir qualquer um a sua volta.
Então, o ideal procurar um equilíbrio qualquer, no qual a pessoa é atenta ao próprio corpo e estado psicológico sem entrar um uma relação neurótica consigo... Difícil.... Mas possível.
Soma-se ao fato que essa condição pode ser sigilosa. Respeito muito aquelas pessoas que são HIV positivo e colocam isso para todos. Admiro mesmo. Mas sei o quanto isso é complicado para maioria das pessoas. Não apenas pelo preconceito, mas também porque assumindo essa condição você ganha mais um rótulo entre tantos que você tem que carregar.
Não que não exista pessoas capazes de se relacionar bem com isso e promover uma reviravolta positiva na própria vida, ou até mesmo conseguir manter uma vida exatamente da forma que queira viver, mas o HIV positivo médio vai viver com o estigma da doença para si e para os demais. Eu particularmente não consigo ainda desassociar uma certa imagem negativa do fato de ser portador de HIV positivo, pois por mais que o portador tenha uma grande autoestima e tenha contraído a doença de uma forma além dos próprios cuidados, ainda assim sua imagem fica associada à de uma vítima das circunstâncias.
Esse é bom ponto de partida para quem vive ou viverá com um HIV positivo. Saber que essencialmente há uma diferença entre a pessoa sem e com o vírus e que por enquanto, enquanto não houver uma cura definitiva, ser portador do HIV é no mínimo uma característica como a cor do olhos. No máximo essa condição será o quanto essa pessoa é capaz sustentar com sua saúde, capacidade intelectual e emocional.
Então, sabendo que o HIV positivo possa ser algo que traz vária consequências para a vida de uma pessoa, ou até mesmo traz nenhuma. Vale a pena que aquele que vive com um portador de HIV utilize a seu favor a pergunta "É o HIV ou algo mais?" quando confrontado com algo que não esperaria de outra pessoa. Não para ser condescendente ou para provocar pena, ou qualquer sentimento negativo. Mas sim para que essa pergunte o liberte justamente disso. Se não é o HIV, o problema é ordinário como os demais das vida da pessoa. Se é o HIV, então o problema pode contar com ajuda de profissionais para ser resolvido. Além de tolerância, paciência e compreensão, que aliás, são ingredientes para qualquer relação no mundo.