Você assume que é portador de HIV, soropositivo ou soroconvertido para alguém além dos profissionais de saúde e da administração pública do quais não pode esconder? Como as pessoas reagem ao seus estado? Já viu no olhar do outro a desaprovação? O sentimento de pena? A repulsa? Ou quem sabe medo?
Desde que descobri que tenho HIV no meu sangue tenho, as vezes me pego perguntado, será que essa pessoas sabe? Por que tocou nesse assunto justo agora? Será que notou meu emagrecimento repentino? Será, será será?
Uma das coisas que mais ouço falar é como estou magro. Não consigo fugir disso. Só se deixasse de sair de casa. Só a magreza - que nem é tanta assim, alguns poucos quilos abaixo do peso normal - já causa todas essas dúvidas e rotulação, imagine a confirmação do diagnóstico.
No auge da infecção, quando problemas começaram a aparecer e tudo que eu pensava era ganhar mais tempo de vida, o que iriam falar de mim me incomodava, mas tinha um peso bem menor no quadro geral das coisas. Agora, com o controle relativo da infecção e até certa recuperação da minha aparência saudável, isso começa a ganhar a frente na vida novamente. Algo que já foi tolo quando comparado a fragilidade e importância da vida, volta a ganhar espaço no pensamento. Vaidade, eu sei. Ego, eu sei. Mas uma vez que não tenho a nobreza e santidade de um autêntico monge budista, isso é meio inevitável.
Então passo a entender as pessoas que arriscam a vida para parecer o que não são. Sejam pelo uso de substância, seja por procedimentos e operações estéticas. O mundo e nossas fraquezas nos levam a isso.
Digo tudo isso para entender finalmente que ainda tenho muita dificuldade de lidar com o que os pensam. Em muitos níveis da minha vida. E isso acaba sendo mais um fator que me empurra para ser um soropositivo anônimo. Ou tentar ser.