sábado, 24 de outubro de 2015

A Nova Aparência do Portador de HIV

Todos nos lembramos do estigma do portador de HIV do final dos anos 80 e início dos anos 90. Era o homem extremamente magro, com perda considerável de cabelo, pele de cor acizentada e esverdeada, olhos profundos e aboticados. Quanto não tinha manhas escuras pelo corpo, machucados e consequente envelhecimento precoce. Essa imagem anunciava o horror da doença e o estágio terminal da AIDS. O doente era identificado facilmente na rua, entre os círculos de conhecidos e nos hospitais. O preconceito era grande e algumas celebridades valentes colocaram seu rosto a mostra pela causa e por uma solidariedade sem tamanho que poucos entendem. Como se expor desse jeito poderia ter algo de bom? Vemos hoje em dia que mostrar aquela realidade foi fundamental para provocar uma reação da nossa sociedade.


Após, tivemos uma suavização dessa imagem. Não tão magra, não tão debilitada, menos chocante, mais ainda facilmente identificável. O olhos ainda se pronunciavam. A cor da pele era entre o cinza esverdeado e opaco. A aparência cansada e certa perda de cabelos. Em pessoas mais velhas, a infecção já não era tão clara como nos mais novos. A qualidade de vida era fundamental para aumento da sobrevida do paciente, mas os casos de falecimento ainda eram constantes. 

Então, vieram a nova geração dos antirretrovirais. Remédios potentes e fundamentais para diminuir drasticamente a mortalidade dos infectados. A aparência do portador de HIV no imaginário das pessoas melhorou bastante. E na realidade, havia pouca coisa que denunciava o paciente em tratamento. Especialmente o fundamento das bochechas, braços e pernas finas em comparação com o corpo com ventre abaloado. 

Como novos portadores de HIV surgindo a todo momento, e como a redução dos efeitos colaterais dos coquetéis. A nova aparência do HIV positivo ainda ficou associada a certa magreza, senão um certo inchaço. Leve distrofia. Um certo afundamento da parte inferior da maçã do rosto e uma coloração de pele menos viva. Os novos portadores de HIV já não eram tão facilmente apontados pela aparência, pois poderiam ter outros males ou até mesmo terem um biotipo semelhante. O que mais denunciava o portador era a passagem da fase assintomática para a fase sintomática, e para quem estivesse mais próximo. 

A nova imagem do portador de HIV não existe. Não que não seja possível identificar algo daquela primeira imagem no soropositivo atual. Em especial, uma certa saliência dos olhos, um afinamento do queixo e bochecha. Menos gordura localizada nas coxas e nádegas. Tanto as intervenções plásticas quanto o simples entendimento da mudança da fisiologia do portador criou-se condições para que o mesmo se misture na multidão sem ser reconhecido. Não é incomum encontrar pessoas que ficam melhores após o contágio. Tanto por passar a cuidar melhor de sua aparência e saúde, como por uma maior disciplina para se alimentar e exercitar. A nova geração de infectados se libertou do antigo estigma da aparência, mesmo que ainda tenha que enfrentar o preconceito, muitas vezes de quem menos esperaria.




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