sábado, 28 de novembro de 2015

Meu amigo e meu amante

A sensação é que fui traído, mas nem isso posso dizer. Tudo esteve muito claro para mim desde o começo, então qualquer esperança ou ilusão que eu tivesse foi culpa minha. Na semana passada, durante o feriado, fui com meus amigos para The Week novamente. Era uma festa temática de lenhadores ou ursos. Tinha um pessoal realmente fantasiado para ocasião. Com muito custo consegui convencer Carlão a ir comigo. Falava tanto dos meus amigos e de como eles eram legais, sem contar é claro que todos eram HIV positivo, como nós.
Carlão e eu tínhamos nos encontrado várias vezes no último mês, basicamente para fazer sexo e comer. Depois cada um ia para seu lado. Mas é claro que tinha expectativas que um dia ele quisesse algo sério. Se não fosse um namoro, uma relação que não tivesse sexo como base. Por isso, sempre convidei ele para programas que pudéssemos conversar, saber um do outro e quem sabe permitir que um envolvimento tivesse nascido naturalmente. Foram convites para cinema, teatro, casas noturnas, passeios, entre outros tantos. A resposta dele sempre foi negativa. Mas sou persistente, e acabei fazendo uma aposta com ele que se eu ganhasse ele deveria ir comigo em uma saída dessas.
Não posso falar aqui o que eu apostei, mas posso dizer que ganhei. E mesmo assim ele não queria pagar. Depois de muito insistir ele topou uma saída, que não passasse das duas horas da manhã.
Foi o bastante para que eu me enchesse de esperança e até mesmo de um orgulho tolo de ter uma companhia assim para sair com meus amigos. Cheguei até a mandar uma mensagem no whatsapp: "encontro vocês lá, vou acompanhado hoje".  O que me rendeu várias gozações e todo tipo de insinuação. Passei para buscá-lo por volta das 23:30 horas. Ele estava como sempre, uma camiseta e calça jeans, mas nem um pouco menos gostoso do que ele sempre é. Fomos conversando animadamente pela primeira vez até chegar na The Week. Mas quando deixei o carro no estacionamento, ele me segurou pelo braço e falou que tinha que falar duas coisas. Uma que não queria que ninguém dos meus amigos soubesse que ele é HIV positivo. O que prontamente concordei e fiz questão de deixá-lo tranquilo que nunca trairia a confiança dele. Mas então houve um segundo recado, esse sim um balde de água gelada. Ele me disse que estava lá apenas como um amigo dele, e que não tínhamos nada. E que ele falava isso para o meu próprio bem. Claro que fiquei com vontade de mandar ele se foder, mas segurei o impulso e falei que eu nunca tinha falado nada diferente, que ele já tinha deixado isso muito claro muitas vezes. Por mais que eu tentei me segurar, não consegui deixar de ficar um pouco mal humorado. Entramos no local e corri para o bar para beber algo. Depois de um e outro drink fiquei mais relaxado. Foi quando percebi o quanto Carlão estava surpreso com o local. Ele nunca havia ido na The Week. E parecia estar muito animado. Depois de um tempo fomos para a área VIP atrás da cabine do DJ, e ficamos lá bebendo mais um pouco e vendo o movimento. Carlão começou a ficar impaciente e querer sair daquela área, quando chegaram meus amigos. Fazendo aquela festa e muito curiosos sobre minha companhia. Continuei a beber e em certa altura resovi ir para o bar pegar outra cerveja, Ted me acompanhou, Carlão falou que iria no banheiro, e os outros ficaram por ali. Demorei para pegar a cerveja e quando voltei Carlão não tinha voltado. Fiquei um pouco apreensivo e fui atrás dele no banheiro. Quando cheguei lá recebo uma mensagem no celular falando que ele tinha voltado para onde o grupo estava. Aproveitei e usei o banheiro. Quando voltei, ele disse que estava na hora de ir embora. Nos despedimos de todos e fomos. Ou seja, uma noite boa. Não houve continuação, ele falou que precisava acordar cedo do dia seguinte e nos despedimos na portaria da casa dele. Desde então trocamos algumas mensagens e só. Ele respondendo de maneira curta, dizendo que estava muito ocupado. Ontem Apolo me ligou pedindo para conversar com ele. Apolo me ligava raramente, mas desde que terminou com o namorado eu fiquei mais próximo dele. Saíamos mais e rolava uma paquerinha de fim de noite, sempre não correspondida. Fui encontrar com ele em um bar perto de casa. E logo percebi que ele tinha um expressão séria demais. Fiquei preocupado, e imaginando várias coisas. Depois de rodear um pouco ele falou que naquele dia que saímos juntos, o Carlão adicionou ele no Facebook, e logo depois começaram a se encontrar... Fazia alguns dias que eles se encontravam. Novamente engoli meu orgulho e falei que não era problema. Afinal Carlão não era meu namorado ou coisa assim. Apolo abriu aquele sorriso largo dele e me abraçou, falando que era um alívio que eu não tinha ficado chateado. Acho que sou um bom ator, pois fiquei muito chateado e com raiva. Mas o que poderia fazer? Obrigar Carlão a não ter nada com Apolo? Só me restou recolher meus caquinhos vir para casa e arranjar um jeito de afogar a dor de cotovelo. Mas olhando tudo o que passamos juntos, Carlão e eu, realmente, só que estava se enganando era eu. Lição dada, lição aprendida.

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