segunda-feira, 11 de abril de 2016

Fazer menos mal aos outros e a si

Logo quando comecei a escrever esse blog lembro de ter falado sobre uma das coisas mais contraditoriamente positivas de ter HIV, aquela sombra da finitude que algumas pessoas vão descobrir tarde da vida se manifesta. A consciência que vamos "desaparecer" vem antecipadamente e devemos fazer certas escolhas.
A primeira reação é tentar cuida si melhor, levar uma vida mais saudável. O que requer uma dose grande de força de vontade e disciplina. Pergunte para qualquer pessoas, se ela está pronta para se salvar tendo abrir mão de certos hábitos e criar novos. A maioria vai dizer que sim. Outros tantos vão por o plano em prática. Poucos vão levar à risca. O fato é que o controle da doença engana. Faz que a gente se sinta quase normal e aos poucos volta a certos hábitos que são insustentáveis na nova vida.
A vida de um portador de HIV deve ser antes de mais nada regrada. Menos álcool, melhor alimentação, evitar fumo e substâncias nocivas. Você geralmente se torna um velhinho antecipado. tem tendências a algumas doenças, as consultas aos médicos e exames são mais frequentes e sua fisiologia não acompanha mais à das pessoas da sua idade. Você se vê pegando sobre o fim mais constantemente. E tudo isso tem um efeito longo e crucial em toda sua vida. Você não é mais o mesmo. E quanto mais rápido você aceitar isso, melhor para você e para aqueles a sua volta.
Se você se negar, a vida vai tratar de mandar seus recados. Uma inflamação aqui, outra ali. Uma dor aqui, outra ali. Um nova doença. Um novo sintoma. E por aí vai...
Estou chegando ao final do segundo ano de tratamento com bons resultados e com boa adesão. Tenho a sorte de ter a experiência de muitos que já estão nesse caminho a alguns anos. Tenho a sorte de viver em um mundo que a informação pode estar logo depois de um clique na internet. E olhe que já reclamei da falta de informação sistematizada. Mas não se engane, sou grato e tenho noção da sorte em relação a outros períodos e doenças que existem no mundo.
Mesmo assim, tudo ainda é duro e imprevisível. Fico vendo os meninos de hoje em dia que simplesmente fazer roleta russa com seus parceiros sexuais. Fico vendo aqueles que decidem partir para o viver agora como o último dia sem ver as consequências. E tento me enganar achando que não sou igual que também já não fui, sou ou serei assim. Mesmo que pontualmente. Mas o mundo está aí para garantir que a gente não tenha um vôo muito alto sem se descolar da realidade.
Hoje eu acordei assim. Pensando em quem já foi, em quem irá. Pensando em mim, e em tudo que passei para chegar até aqui. Não existe saída para nós. Talvez nunca existirá. Mas podemos ter algo que é tão precioso quanto importante e pode ser decisivo para que gente chegue pelo menos um pouco mais longe: uma consciência um pouco maior da frágil, ilógica e linda existência humana.

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