sábado, 20 de junho de 2015

Manual de como viver com um HIV positivo - parte II - É o HIV ou algo mais?

Uma das coisas que você sempre ouve quando falam de HIV e AIDS é que as pessoas não morrem de HIV,  mas de doenças oportunistas relacionadas à baixa imunidade. Ufa! Que alívio! Para não dizer ao contrário. Um portador do HIV tem como uma das principais preocupações da sua vida sua própria saúde. Considerando que isso deveria ser uma preocupação de todas as pessoas, e considerando que mesmo assim, a maioria dos portadores simplesmente vão levar uma vida comum com certos abusos e faltas de cuidados, essa é uma característica que pode influenciar muito na vida, ou qualidade de vida, com um HIV positivo.
A pergunta de ouro é: É o HIV ou algo mais? Porque a pessoa em tratamento ou não continuará a ter mudanças de humor, apetite, peso, gripes, resfriados e dores de cabeça. Mas todas elas vem acompanhada de um toque a mais. Se a pessoa demorou um pouco para iniciar o tratamento, e teve um momento de saúde frágil essa paranóia pode ser ainda mais forte e constante. Se a pessoa, está em tratamento, há ainda a questão das ingestão de substâncias químicas, que mesmo que comprovadamente salvam vida, também trazer efeitos colaterais diversos a curto, médio e longo prazo.
Se o portador de HIV com quem você vive for desligado ou desleixado com a própria saúde, você pode acabar assumindo esse papel. Ou ainda pode ser como aquelas relações ruins (no caso, da pessoa com sua própria condição de HIV positivo), que vão se acumulando pequenas mágoas até que em algum momento há uma explosão. E essas explosões podem atingir qualquer um a sua volta.
Então, o ideal procurar um equilíbrio qualquer, no qual a pessoa é atenta ao próprio corpo e estado psicológico sem entrar um uma relação neurótica consigo... Difícil.... Mas possível.
Soma-se ao fato que essa condição pode ser sigilosa. Respeito muito aquelas pessoas que são HIV positivo e colocam isso para todos. Admiro mesmo. Mas sei o quanto isso é complicado para maioria das pessoas. Não apenas pelo preconceito, mas também porque assumindo essa condição você ganha mais um rótulo entre tantos que você tem que carregar.
Não que não exista pessoas capazes de se relacionar bem com isso e promover uma reviravolta positiva na própria vida, ou até mesmo conseguir manter uma vida exatamente da forma que queira viver, mas o HIV positivo médio vai viver com o estigma da doença para si e para os demais. Eu particularmente não consigo ainda desassociar uma certa imagem negativa do fato de ser portador de HIV positivo, pois por mais que o portador tenha uma grande autoestima e tenha contraído a doença de uma forma além dos próprios cuidados, ainda assim sua imagem fica associada à de uma vítima das circunstâncias.
Esse é bom ponto de partida para quem vive ou viverá com um HIV positivo. Saber que essencialmente há uma diferença entre a pessoa sem e com o vírus e que por enquanto, enquanto não houver uma cura definitiva, ser portador do HIV é no mínimo uma característica como a cor do olhos. No máximo essa condição será o quanto essa pessoa é capaz sustentar com sua saúde, capacidade intelectual e emocional.
Então, sabendo que o HIV positivo possa ser algo que traz vária consequências para a vida de uma pessoa, ou até mesmo traz nenhuma. Vale a pena que aquele que vive com um portador de HIV utilize a seu favor a pergunta "É o HIV ou algo mais?" quando confrontado com algo que não esperaria de outra pessoa. Não para ser condescendente ou para provocar pena, ou qualquer sentimento negativo. Mas sim para que essa pergunte o liberte justamente disso. Se não é o HIV, o problema é ordinário como os demais das vida da pessoa. Se é o HIV, então o problema pode contar com ajuda de profissionais para ser resolvido. Além de tolerância, paciência e compreensão, que aliás, são ingredientes para qualquer relação no mundo.

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