Então, você descobriu que seu amado ou amada é HIV positivo. Primeira coisa, nada de pânico. Há milhares de pessoas que vivem com HIV positivo sem perder (ou ganhar) qualquer qualidade de vida a dois. Segue aqui um rascunho do que fazer:
1. Tomando a decisão - quero ter um relacionamento com um portador do HIV?
Seja sincero com você mesmo. Culpa, pena, medo, repulsa, atração e outros sentimentos devem e podem ser considerados nessa decisão. Mas o principal é verificar primeiro o seu contexto em relação a pessoa e aos seus relacionamentos afetivos. Por exemplo, qual foi seu relacionamento mais longo? Você tem tido a capacidade de se relacionar de maneira estável e duradoura? Quais são seus sentimentos pela pessoa? Você gosta dela? Você ama? Ou você apenas está com um grande tesão? Se a pessoa não tivesse HIV você teria uma relação com ela? O que é importante em uma relação sexual para você? Cumplicidade? Intimidade? Segurança? Limpeza? Você tem feito sexo sem proteção com seus parceiros? O que você sabe sobre HIV/ AIDS? O que você sabe sobre sua própria saúde? O que procura em um parceiro sexual? O que procura em parceiro amoroso? Por que você procura pessoas assim?
Reflita sobre essas perguntas e outras que surjam na sua cabeça antes de mais nada. Anote ou guarde as dúvidas que não conseguir responder você mesmo. Agora, pondere um pouco sobre tudo.
a. Qual o potencial de um relacionamento com um HIV positivo? O que eu posso falar é que viver com alguém com HIV pode ser fácil e pode ser difícil. Depende do que você espera e do que você é, e também do que a outra pessoa espera e é. Hoje, os portadores de HIV podem viver uma vida relativamente normal e longa, mas depende do quando estão dispostas a se tratarem ou monitorarem a doença. É mais ou menos a situação de alguém que descobre que o parceiro é diabético ou possui alguma outra doença grave ou genética. O potencial de tempo de relacionamento que pode ser limitado pela doença só depende de duas coisas qualidade de vida e adesão ao tratamento.
b. O que sei sobre HIV e DSTs? O segundo passo, senão o primeiro é se informa sobre a doença. Nada do que eu disser aqui será importante se você não sober coisas básicas sobre a doença. O quadro geral é pessoas com HIV podem viver tanto quando pessoas sem HIV. Pessoas com HIV podem demorar para iniciar o tratamento. Pessoas com HIV que se tratam com o chamado coquete (terapia antirretroviral) podem sentir ou ter efeitos colaterais, mas dependem de pessoa para pessoa. Pessoas em tratamento que possui carga viral indetectável tem probabilidade quase nula de transmissão de HIV, é uma afirmação polêmica, mas vale a pesquisa. Parceiros de pessoas com HIV podem tomar o coquetel preventivamente para reduzir a chance de serem contaminadas. Alguns governos tem inclusive orientado gay sexualmente ativos a fazerem isso mesmo sem parceiros com HIV, pesquise. Apesar de ninguém poder falar em cura da AIDS em curto prazo, em médio pode haver surpresas, em longo pravo o surgimento da cura é provável.
c. Suas relações afetivas dizem muito sobre você. Já vi muitas pessoas afirmarem que nunca teriam uma relação com um HIV positivo por medo de ter um relacionamento curto, mas que nunca tiveram um relacionamento sério maior que um ano. Já ouvi falar que não conseguiriam se relacionar com um HIV positivo, pessoas que sistematicamente fazem sexo sem proteção. Ao mesmo tempo pessoas que só tiveram uma única longa relação podem se jogar em uma nova com um HIV positivo sem pensar nas consequências. Faça uma análise sobre como você tem se relacionado com as pessoas nos últimos anos. Você possui algum tipo padrão de relacionamento. Por exemplo, mulheres que só escolhem cafajestes, ou homens que não conseguem ser fieis. Veja bem que essa é uma ponderação para qualquer tipo de relacionamento. Mas com o fator HIV, você tem a chance de se confrontar com sua verdade. Talvez você pode estar apaixonado e vivendo um momento feliz, mas nunca consegui se relacionar de forma longa. Talvez você só queira alguém para acompanhar você quando sair de casa nas festinhas e baladas. Talvez você queira o pai dos seus filhos. Tudo isso importa. Responda as perguntas: quantos relacionamentos eu já tive? quantos foram felizes? o que espero de um relacionamento? o que espero desse relacionamento com essa pessoa com HIV? Coloque você nas respostas. Uma pessoa que procura um relacionamento sério de 20 anos e diferente de uma pessoas que procura um relacionamento sério de 50 anos. Pondere.
d. Agora você já sabe o que é AIDS, o que você acha que quer em um relacionamento e o que tem feito para conseguir manter um relacionamento sério. Está na hora de colocar seu parceiro na equação. Quantos relacionamento sérios ele ou ela teve? Será que eles querem o mesmo que você? Como é o estilo de vida do seu parceiro? Ele está em tratamento? Está indetectável? Ele é aberto para falar sobre esse assunto com você? Pergunte e pergunte tudo que queira saber e deixe ele ou ela a vontade para fazer o mesmo. Vai ser muito esclarecedor.
e. Se você já leu até aqui, deve ter passado pela sua cabeça que talvez tudo isso deveria ser feito independente se o seu parceiro for HIV positivo ou não. É verdade. Geralmente a gente segue o coração e só vai ponderam as consequência quando se está envolvido demais, comprometido demais ou tarde demais. Apesar de tudo isso. No final das contas, o que você e a pessoa sentem vão ser decisivos para um relacionamento feliz ou não, dure o tempo que durar. Mas vale o exercício da razão. Se não é para deixar um você mais tranquilo para tomar uma decisão. Serve para entrar um pouco mais consciente em uma relação e poder se preparar para os desafio que qualquer tipo de relação tenha.
f. É o amor, ou pelo menos é a paixão. Quando se está apaixonado é muito difícil controlar uma decisão. Provavelmente, ela já está tomada pelo seu coração até que o sentimento ceda espaço para outro menos controlador. Se é um querer bem, uma admiração, é mais fácil tomar um decisão sobre se relacionar ou não. Têm pessoas que passam de grandes paixões para grandes paixões com grande dose de sofrimento no meio, e são viciadas nisso. Têm pessoas que procuram a grande paixão, mas não tem ideia do que seja. Têm pessoas que procuram fugir dela por medo de se machucar ou perder o controle. o fato que o sentimento imediato é poderosos para ajudar a decidir. Se você quer esse relacionamento de qualquer jeito pois está enlouquecido pela pessoa não há muito o que falar, certo? Se você gosta demais da pessoa e quer o melhor para ela, vale ponderar e chegar em alguma decisão que o racional tenha um grande peso. Se você não se importar tanto assim, talvez não esteja mesmo na hora de se relacionar.
g. Por fim, converse com a pessoa sobre o que for possível. Seja honesto. Coloque seus medos e angústias. Tenha uma conversa madura. Se vocês não conseguirem ter uma conversa profunda sobre esse assunto, talvez não esteja preparados mesmo para um relacionamento. Ou talvez o medo ou a angústia sejam grande demais. Para não ferir o sentimento um dos outros, fale com cuidado, não deixe de pedir desculpas se for mal-entendido, não deixe de pedir respeito se sentir agredido. Nenhum de você dois escolheu estar nessa posição saiba reconhecer que o outro é humano e pode falar. Saiba reconhecer que é humano e que erra também.
h. Tome uma decisão. Se sim ou não, tome uma decisão. É a melhor forma de evitar sofrimento. Se não quiser o relacionamento se afaste e respeite aquele tempo para que se possa ser amigos se for o caso. Não precisa ter culpa se não quiser se relacionar com alguém com HIV. Tem quem não se relacione por motivos fúteis e outros por motivos sérios. Sua opção é sua opção. E ninguém merece sua pena, assim como você não merece se sentir culpado. Siga em frente. Se decidir por se relacionar, decida de vez. Espante as dúvidas da sua cabeça com conhecimento e força de vontade. Tenha na cabeça que não é uma obrigação de dar certo. Relacionamentos obrigados a dar certo eram coisas de séculos passados. Se respeite, respeite ao seu parceiro e exija respeito dele. Vá em frente.
Veja também as outras partes.
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